Instituição recebe apoio do Sindec e da Força Sindical
Régis Araújo

Pequenos gestos que representam tudo. Losangela Ferreira Soares, conhecida pela comunidade como Tia Lolo,diz que, às vezes, a intenção vale mais do que um presente.

Uma infância pobre ensinou a Losangela Ferreira Soares conhecida pela comunidade como Tia Lolo - que, às vezes, a intenção vale mais do que um presente. Ela pertencia a uma família humilde, onde cada aniversário era comemorado mesmo que só com um bolinho. .Às vezes, não havia presente, mas bolo nunca faltou.. Ela conta que, em um aniversário seu, a família enfrentava dificuldades. .Minha mãe fez um bolo de pipoca para a comemoração. Com isso, aprendi o valor de um gesto de carinho.Desde muito pequena ela descobriu que é preciso lutar pela realização dos sonhos. Em relação aos que não se concretizam, ela diz que é preciso continuar batalhando para que outros possam realizá-los. Foi dessa certeza que surgiu a Fundação Instituto Lolo, que recebe, diariamente, cerca de 170 crianças, em Viamão, a quem oferece alimentação, cuidados e aulas de reforço escolar.

A instituição conta com um terreno emprestado, onde um ônibus transformado em escola, equipado com mesas de estudos, biblioteca e computador, divide espaço com uma casa de quatro cômodos - construída pela comunidade como presente de aniversário para Lolo. Ali se encontram um berçário, para os recém-nascidos; uma espécie de oficina, com máquina de costura para reformar as roupas; uma despensa, com os poucos alimentos doados; e uma cozinha com pia e geladeira.

Na semana passada, Aline(nome fictício) completou 15 anos. Tia Lolo descobriu que a menina nunca recebera uma festa de aniversário. Combinou com as crianças que freqüentam a instituição para comparecerem fantasiadas. Vários Batmans, Pedritas, vampiros, fadas, gnomos compareceram. Até Aline, que desconhecia o motivo da roupa especial, foi de Cinderela. Na escola, tia Lolo preparou uma festa com direito a um bolo enorme.São pequenas ações assim que fazem do local um ambiente acolhedor.

Relatos de dificuldades e, sobretudo, superação ainda comovem a Tia Lolo, hoje, uma espécie de mãe para mais de cem crianças do Bairro Orieta em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Tudo começou há 14 anos, quando o primeiro de seus quatro filhos, então com 7 anos, enfrentou problemas no colégio. Depois de buscar auxílio com os professores, ela própria resolveu ministrar as aulas de reforço para o primogênito. Não demorou muito para que outros dois colegas acompanhassem as atividades. Com os resultados positivos estampados nos boletins do trio, as educadoras da instituição de ensino passaram a indicar a tia Lolo para aulas particulares. A casa, onde Lolo vive com o marido, ficou pequena para a demanda. A solução foi instalar um banco na varanda. Depois uma barraca, até que um ônibus enviado para reforma na funilaria do irmão, foi emprestado pelo proprietário que não possuía condições financeiras para realizar os reparos necessários.Neste período, já eram mais de 70 crianças atendidas. Algumas já não voltavam para casa, em função das condições sociais da família, como violência, alcoolismo, drogadição e exploração do trabalho infantil.Chegou o momento em que foi preciso oferecer também alimentação. .No primeiro dia, compramos pão com os últimos centavos que tínhamos. Enquanto meu marido preparava o café, dividi os pães com os pequenos. No início ele estranhou e disse que eu era maluca, pois não havia mais dinheiro em casa. Mas, em seguida, me apoiou dizendo que mataríamos a nossa fome com café, mas de consciência limpa.Nascia o Instituto Tia Lolo.

Atualmente, o ônibus está instalado no antigo terreno baldio, em frente à casa de Lolo. No local foi construída uma peça para melhor atender às crianças, com a ajuda da comunidade. Rosa Maria Farias Duarte, voluntária há 5 anos na instituição, possui quatro filhos e uma afilhada que freqüentam, diariamente, o local e destaca o amor e a perseverança como as principais características de Lolo. Tem momentos, que tudo é escasso, pode até faltar comida, mas o amor e o carinho que as nossas crianças recebem aqui, não se encontra em outro lugar., revela, apoiada pela filha Cristiane. .Se eu não pudesse vir por um dia aqui sentiria muita saudade de todos e, principalmente, da tia Lolo., confessa a menina. As barreiras são inúmeras, mas são vencidas uma a uma. .Às, vezes, parece que alguém lá em cima está nos protegendo. Tem dias que não tem de onde tirar leite e, sem explicações, estaciona um carro com caixas para doações no exato momento em que a situação está ficando crítica. Isto acontece com freqüência e nos faz acreditar cada vez mais no nosso trabalho., diz tia Lolo.

Instituição recebe apoio do Sindec e da Força Sindical

Até 18 de abril, era necessário cozinhar na casa de Lolo para, depois, carregar as panelas até o terreno em frente. Agora, com o fogão industrial doado pelo Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre de Porto Alegre (Sindec) e a Força Sindical, o processo pode ser facilitado. Foram doados também material de higiene pessoal - como chuveiros, talcos, sabonetes, papel higiênico e cotonetes - e escolares. A contribuição é a primeira de uma série de ações previstas pelas entidades, que já falam em adotar o tia Lolo. Depois do passo inicial, o presidente da Força Sindical e secretário-geral do Sindec, Cláudio Janta, pretende manter conversações com outras entidades de classe para proporcionar atendimento médico e odontológico, periodicamente, na região. .A idéia é levar profissionais da área de saúde, no mínimo uma vez por mês.Ele explica que o Sindec e a Força Sindical já realizam alguns projetos na área social e destaca a participação da iniciativa privada, que deve ser procurada, na busca de auxílio para o desenvolvimento de programas também na Fundação Instituto Lolo. A assistente social do Sindec e da Força Sindical, Camila Custodio, destaca que a arrecadação inicial para o projeto foi obtida com a contribuição dos funcionários. Segundo ela, os critérios de escolha passaram pelas verdadeiras necessidades do instituto. Escolhemos esta instituição - cujo principal mantenedor eram doações de pessoas físicas - por não haver nenhum órgão governamental ou empresa colaborando. .Queríamos adotar uma instituição que estivesse, realmente, abandonada e carecendo de iniciativas mais planejadas.,explica Camila.

Jornal do Comércio

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