Porto Alegre é pensada até 2038
Régis Araújo

Porto Alegre e os seus múltiplos problemas foram examinados na semana passada dentro da proposta.

Recortada como um jogo de quebra-cabeças a ser resolvido, Porto Alegre e os seus múltiplos problemas foram examinados na semana passada dentro da proposta "Câmara Debate: o futuro da cidade", do presidente da Câmara Municipal, Sebastião Melo. Pensar, discutir e planejar o futuro da cidade para os próximos 30 anos foi a pauta. Na primeira reunião, os debates trataram de duas partes: a legal (regularizada, com os serviços públicos em ordem) e a ilegal (sem registros, irregular e sem perspectivas de curto prazo).

Nessa Porto Alegre dividida, a parte informal foi apontada como a maior. Nasceu do crescimento da outra, apesar das leis, observou o representante da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, Jorge Debiagi. Hoje, a cidade ilegal é dominante dentro de Porto Alegre. O vice-presidente da Sociedade de Engenharia do RS, Romano Botin, citou dados do Ministério das Cidades para reforçar a informação: 56% da população da Capital não paga impostos por habitar, justamente, nas partes da cidade não regulamentadas.

Segundo Botin, "a parte legal e menor, cerca de 36%, sustenta a maior". Para Debiagi, o tema é prioritário, "antes que seja tarde". Botin defendeu o fim das "políticas geradoras de depósitos de pessoas, sem planejamento, em áreas nas quais a regularização é difícil". Do contrário, "teremos o caos urbano", alertou. Em nome do Fórum de Planejamento, 1ª Região, Fernando Luiz Prestes Barth lembrou que Porto Alegre nos anos 1940/50 foi a terceira mais importante capital no Brasil, atrás de São Paulo e Rio. "Hoje é a oitava, por não ter enfrentado desafios no passado", registrou. Um grande erro, na visão dele, foi o "banimento" de indústrias, muitas tradicionais, para municípios da região Metropolitana. "Nos transformamos numa cidade sustentada pela folha de pagamentos do Estado, Município e União", disse. Conforme Barth, o desenvolvimento econômico "é a alavanca para a cidade". Ele citou "outra falha de planejamento": a ausência de vias expressas (longas, quase sem semáforos, com elevadas) para cruzar a cidade e desgargalar o trânsito, e de metrô.

Conforme o representante do fórum, faltam ousadia e grandes obras. Já o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RS), Carlos Alberto Sant?Ana, entende que o projeto do futuro de Porto Alegre passa menos pela exploração lucrativa da cidade e mais por questões como energia e preservação. "Teremos nas próximas décadas a obsolescência de prédios, estruturas, obras. O futuro não pode ser pensado com paradigmas, principalmente da indústria, dos anos 70. O cimento, por exemplo, não é material renovável. É preciso evitar a apropriação do planejamento da cidade por entidades empresariais", afirmou.

Fonte: Correio do Povo

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