Renda sobe e pressiona consumo
Jousi Quevedo

Apesar dos sinais de desaquecimento do mercado de trabalho, os salários continuam em alta, o que dificulta o controle da inflação.

A demanda dos brasileiros segue muito forte, apesar da menor geração de postos de trabalho, provocada pelo crescimento menos robusto do País e pelo fraco desempenho da indústria, apontam indicadores divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo forte dificulta a tarefa do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne na semana que vem para decidir a taxa básica de juros.

A taxa de desemprego caiu de 6,2% em julho para 6% em julho - o menor patamar para o mês desde 2002, quando teve início a série histórica do IBGE. O rendimento médio real dos trabalhadores no País foi de R$ 1.612,90 em julho, uma alta de 2,2% em relação a junho e de 4% em relação a julho de 2010. A massa salarial também subiu, para R$ 36,6 bilhões, 2,7% acima de junho e 6% maior que julho de 2010.

Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, a falta de mão de obra qualificada mantém o poder de barganha dos trabalhadores por melhores salários. "O serviço doméstico é o exemplo que salta aos olhos. Para não perder a empregada, a patroa paga mais", disse Romão. Os rendimentos dos serviços domésticos e de outros serviços subiram, respectivamente, 5,9% e 6,1%. Graças a fenômenos como esse, a inflação corrói menos a renda dos trabalhadores.

Para o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, o resultado do emprego em julho mostrou que as variáveis do mercado de trabalho seguem evoluindo de maneira consistente e não há sinais de forte desaceleração. "No terceiro trimestre, os dissídios a serem concedidos a trabalhadores de importantes categorias, como metalúrgicos, petroleiros, bancários e químicos, devem continuar impulsionando a massa de renda, dando fôlego adicional ao consumo."

Vagas. Com uma previsão de alta de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano, abaixo dos 7,5% de 2010, a geração de vagas de trabalho está menor, mas não o suficiente para reduzir a renda dos trabalhadores e sua capacidade de consumir. O número de ocupados cresceu 2,1% em julho - uma desaceleração em relação aos 2,5% de maio e aos 2,3% de junho, informou o IBGE.

O Cadastro Geral de Trabalhadores (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho, já havia apontado essa tendência. Em julho, houve uma geração líquida de 140,6 mil postos de trabalho formais no País, abaixo dos 181,8 mil de julho de 2010. A criação de novas vagas foi menor nos três grandes segmentos da economia: indústria (que já sente esse impacto desde setembro de 2010), construção civil e também nos serviços.

Para Cimar Azeredo, gerente da coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, houve melhora na qualidade do emprego. "O mercado não está absorvendo a mão de obra que se esperava, mas gera mais empregos com carteira assinada." O número de vagas formais cresceu 1,2% em julho. Na Região Metropolitana de São Paulo, a alta foi maior, de 2,2%, o que representa uma tendência de formalização do emprego.

Fonte: O Estadão

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