Frio mais cedo reduz estoques das lojas
Régis Araújo

O frio mais intenso e que chegou mais cedo este ano gerou uma dificuldade inusitada ao varejo de confecções do Estado. A maior procura dos consumidores por itens mais quentes provoca problemas na reposição de estoques de modelos e tamanhos em linhas de malharia e casacos.

O frio mais intenso e que chegou mais cedo este ano gerou uma dificuldade inusitada ao varejo de confecções do Estado. A maior procura dos consumidores por itens mais quentes provoca problemas na reposição de estoques de modelos e tamanhos em linhas de malharia e casacos. Atrasos nos desembarques de produtos importados, causados pela greve dos auditores federais, também obrigaram muitas redes a recorrer a alternativas para garantir mercadorias nas lojas.

Grifes nacionais do varejo, cuja clientela se depara com a falta de muitos itens, dificilmente conseguirão repor peças das coleções antes do final da estação.

Com previsão de fechar junho com alta de 8% nas vendas frente ao mesmo mês de 2007, a direção da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre admite que o superaquecimento na procura, com efeito direto na queda dos estoques, poderá alterar o calendário da tradicional liquidação da estação. O prazo poderá ser encurtado. O presidente da CDL, Vilson Noer, decidiu pautar o atual ambiente de vendas na tradicional reunião de hoje da direção da entidade. "Precisamos medir a condição da oferta de produtos e avaliar eventuais mudanças na campanha de promoções", adianta Noer.

Os prejuízos no abastecimento devido à greve de mais de 50 dias dos fiscais já haviam sido prenunciados pela CDL. Para agravar a situação, a manutenção do frio até outubro, prognosticada na semana passada pelos meteorologistas, é apontada como um elemento indesejado pelo setor. "É horrível. Foi a falta de estação definida que determinou quedas nas vendas por três anos consecutivos. O inverno não entrou na hora certa e se arrastou até setembro", recordou o dirigente.

Números da CDL mostram desempenho negativo nos meses de junho de 2004, 2005 e 2006, com quedas de 2,73%, 5,28% e 3,2% no faturamento, respectivamente. O ano passado marcou a retomada com 5,6% de alta no mês. Para junho de 2008, a aposta é de avanço de 8%. O ingrediente externo pesa cada vez mais no mercado do varejo de confecção brasileiro. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) registra crescimento de 20% nas importações de têxteis nos últimos 12 meses, enquanto a produção nacional se elevou apenas 8%. Já as vendas para o consumidor avançaram 12% no período.

Redes de confecção como a Rabusch, com 12 lojas localizadas na Capital, Canoas e São Leopoldo, sofreram impacto na entrega de produtos. O diretor-proprietário da rede, Alcides Debus, conta que recebeu metade de algumas encomendas e teve de recorrer a outros importadores para garantir mercadoria. A dependência externa atinge 25% das confecções. "Conseguimos repor os estoques, mas se o frio se prolongar e com intensidade poderemos ter problema no final de julho", preocupa-se Debus. "Mas é melhor que falte do que sobre. Vamos ter menos produtos para liquidar", conclui o lojista.

A Lojas Gang, de moda jovem, também teve de recorrer a fornecedores alternativos para completar o suprimento de itens, como jaquetas. O estoque se esgotou em maio e começo de junho devido à maior demanda, alavancada pelas vendas do Dia dos Namorados. O diretor de marketing e vendas da Gang, Gildo Sibemberg, já trabalha com redução no período de liquidação. "Foram 40 dias em 2007. Agora será de 10 a 15 dias no máximo", calcula o diretor da Gang. Para Sibemberg a temporada menor de promoções deve ser compensada com a renovação do guarda-roupa para o verão, que começa em agosto.

A indústria gaúcha de confecções registra novos pedidos de lojistas, mesmo quando os lançamentos de primavera-verão estão em foco. A Feira da Indústria da Moda (Fenim), na semana passada em Gramado, acabou sendo alvo de compras para a atual estação. O presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário do Estado, Nelson Jawetz, reforça que os baixos estoques são efeito do frio que chegou mais cedo. A entidade projeta crescimento de 20% nos negócios da estação. Peças mais pesadas, como casacos, estão escassas e com maior demora na entrega. "Não há abundância. Quem tem agilidade em produzir está garantindo encomendas", afirma Jawets.

Fonte: Jornal do Comércio

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