Caviar barato e feijão caro
Régis Araújo

A alta crescente do preço dos alimentos revelou o lado perverso da inversão de política econômica praticada no Brasil. A aposta em uma falsa paridade da moeda brasileira com o dólar não esconde as diferenças colossais entre as duas economias.

A alta crescente do preço dos alimentos revelou o lado perverso da inversão de política econômica praticada no Brasil. A aposta em uma falsa paridade da moeda brasileira com o dólar não esconde as diferenças colossais entre as duas economias. Com o dólar valendo cerca de R$ 1,65, o custo dos produtos importados cai enquanto sobe o do produto brasileiro comercializado no exterior. Iguarias estrangeiras ficaram baratas para o brasileiro de classe média alta, ao mesmo tempo em que os gêneros de primeira necessidade passaram a pesar no já apertado orçamento da grande maioria da população. A carestia dos alimentos e insumos questiona o que realmente importa aos brasileiros: comprar alimentos baratos ou ter acesso a bugigangas e iguarias como o caviar, um derivado de peixe, vendido a peso de ouro nos mercados de luxo da classe A? Famoso sem nunca ser visto, o caviar foi alvo da ironia do sambista Zeca Pagodinho ao cantar no refrão "...nunca vi, nem comi, eu só ouço falar...". O ritmo da taxa de juros e do preço do barril do petróleo percorre caminho avesso à lógica da taxa de câmbio. Enquanto nos Estados Unidos o litro de gasolina custa menos que um dólar, ou pouco mais que um real, aqui o mesmo litro varia entre R$ 2,50 e R$ 2,60. Ao aplicar a mesma lógica, o litro da gasolina no Brasil deveria acompanhar o custo norte-americano. Nos EUA, os combustíveis são subsidiados pelo governo com redução de impostos, porque os combustíveis também são consumidos nos aquecedores e residências dos americanos.

Sentado eternamente em berço esplêndido, o Brasil ostenta a posição de segundo produtor mundial de alimentos, sendo a última grande fronteira agrícola do planeta. Está aqui a solução para ampliar a oferta de alimentos no mundo em larga escala. Logo, a produção de biocombustíveis pouco tem a ver com o boom do preço dos alimentos, embora esteja servindo para justificar que essa carestia é forçada justamente por quem especula com o petróleo. Antes de ficar espantado, o governo brasileiro deveria pensar seriamente em ingressar no chamado Primeiro Mundo pela porta da frente, fazendo hoje o que os países europeus, os Estados Unidos, o Japão e a China fizeram quando protegeram suas agriculturas, planificadas para operar com alta produtividade e, sobretudo, a preços atraentes para suas populações. Até hoje a questão dos subsídios é tema de impasse nas reuniões de cúpula.

Clàudio Janta Presidente da Força Sindical/RS

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