Bolsas repetem auge da crise de 2008
Jousi Quevedo

Apesar da queda geral, os investidores correram para os títulos do Tesouro dos EUA, que haviam sido rebaixados.

Os números não deixam dúvidas. O mercado global viveu ontem o dia mais sangrento desde o auge da crise que eclodiu em setembro de 2008. As quedas foram generalizadas, com exceção, ironicamente, do ativo que provocou a confusão (os títulos do Tesouro dos Estados Unidos) e do ouro, que renovou a cotação recorde (US$ 1.720 a onça).

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) desabou 8,08%, maior perda desde 22 de outubro de 2008. Por pouco não foi acionado o circuit breaker (que breca o pregão quando a queda bate em 10%). O dólar fechou a R$ 1,612, alta de 1,64%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que "o Brasil está preparado, mas não está imune à crise". Ele garantiu que o governo vai apertar as contas públicas.

O foco desta crise é justamente a dúvida de investidores sobre a capacidade de os países ricos honrarem suas dívidas. Em algumas situações, a desconfiança aparece já no curto prazo (casos de Espanha e Itália). Em outros, o temor está no médio e longo prazos (casos de EUA e França).

O desempenho dos mercados ontem foi um dos mais "cantados" da história. Sexta-feira à noite, quando já não havia negociações de ativos em nenhuma parte do planeta, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s reduziu o chamado rating (nota) dos EUA de AAA para AA+.

No fim de semana, discutiu-se qual o efeito do rebaixamento sobre os mercados. Afinal, os papéis americanos são considerados os mais seguros do mundo. É por isso que, em momentos de volatilidade, são procurados por investidores, em um movimento chamado de "flight to quality" (voo para qualidade).

Parece contraditório, mas o movimento se repetiu ontem. O juro do bônus de 10 anos, por exemplo, atingiu 2,309%, nível mais baixo desde 2009. A remuneração (juro) desses papéis cai quando a procura aumenta. "Não há opção comparável aos títulos do governo americano. Os outros papéis têm qualidade inferior", afirmou o sócio da gestora Investport Dany Rappaport.

O vice-presidente de Tesouraria do banco WestLB, Ures Folchini, disse que muitos investidores venderam ativos variados (como ações e commodities) para fazer dinheiro vivo. "E vão permanecer nessas posições por muito tempo." O Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York caiu 5,55%, maior perda desde dezembro de 2008. O petróleo recuou 6,4%, a US$ 81,31, menor preço desde novembro de 2010.

A tensão deve continuar nos próximos dias, ainda por causa da nota americana. Nesta terça-feira, as bolsas da Ásia abriram em queda. Às 22h de ontem (horário de Brasília), Tóquio caía 4,1%; Xangai 3%; Hong Kong 7,4%; e Seul, 5,11%. Mas, mesmo a médio e longo prazos, não se espera melhor desempenho dos mercados, pois há consenso de que as economias desenvolvidas levarão anos (talvez uma década) para recuperar o vigor.

Fonte: Estadão

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