Varejo busca retomada com Dia das Crianças
Gabriella Oliveira

Estratégia dos lojistas para atrair clientes é apostar em bom atendimento, promoções e ofertas de parcelamento.

Principal data para o segmento de brinquedos, o Dia das Crianças deve ajudar a recuperar o cenário de queda nas vendas registrado pelo comércio no primeiro semestre deste ano. A expectativa de alguns lojistas é de crescimento real equivalente ao que ocorreu no mesmo período em 2014 (em torno de 1,5%). "A ideia é trabalhar buscando de todas as formas uma estabilidade, porque certamente o ticket médio será inferior ao do ano passado (que ficou em R$ 86,00)", adianta o presidente da Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGV), Vilson Noer. A entidade está finalizando uma pesquisa junto aos consumidores - que deve ser divulgada nos próximos dias - para clarear a perspectiva do setor.

"Estamos mobilizados, recebendo mercadorias, mas preocupados com excesso de estoque, pois não tem como reverter o que foi encomendado e o movimento diminuiu muito (12% nas lojas de rua e 20% nas de shopping) nos últimos meses, em função da crise", admite a supervisora da rede de lojas Del Turista, Beatriz Dias. Segundo ela, o câmbio não chegou a afetar os preços dos importados, porque os pedidos foram feitos no início do ano. "Até o Natal, garantimos, porque já está tudo encomendado, mas, a partir de novembro, o preço do dólar pode vir a ser um problema, até porque o mix de produtos dos fornecedores está mais enxuto", considera Beatriz, se referindo às compras de importados que ainda devem ser feitas para o primeiro semestre de 2016. Para o Dia das Crianças, a gestora aposta em produtos nacionais, como os fabricados pela Estrela, que tem, entre os destaques, uma linha de licenciados bastante desejada pelos pequenos.

Nas rede Lojas França, a aposta são os lançamentos das bonecas Frozen e Show da Luna, ambas da Estrela, mas também incluem importados, como carrinhos Hot Wheels, da Mattel, e os heróis da multinacional Hasbro. De acordo com a gerente da unidade localizada no Shopping Total, Fernanda Barcellos, embora o movimento de clientes tenha "caído muito" no primeiro semestre, a rede França estima crescer 20% nas vendas do Dia das Crianças, a exemplo do ano passado. "Esta data representa 40% do nosso faturamento, temos esperança de vender bem e recuperar o desempenho, que enfraqueceu pela queda da demanda nos últimos meses."

O estoque da rede para a data ainda está sendo preparado, com as compras feitas "aos poucos". Fernanda destaca que as encomendas foram reduzidas em 40% frente a 2014. "Diminuímos o mix de importados e de grandes marcas, e também o volume de itens encomendados." Para atrair os consumidores, a estratégia será aumentar a possibilidade de parcelamento para até 10 vezes sem juros, além de caprichar no atendimento e realizar promoções, afirma a gerente da França. Na Del Turista, a mesma receita deve garantir um Dia das Crianças mais feliz para o caixa da empresa. "Estamos apostando nos produtos nacionais, justamente para ofertar preços, pois se consegue uma diferença de cerca de 15% a menos", calcula Beatriz.

Noer, da AGV, concorda que a saída para os comerciantes de brinquedos será atrair os consumidores com promoções e parcelamentos, sem descuidar do atendimento. Proprietária da rede Estrela Franquias (das lojas Caverna do Dino, de enxoval de bebê e roupas infantis), Fabiana Estrela destaca a importância de treinar as equipes para estarem alinhadas ao desejo dos clientes. "É fundamental entender quais produtos são demandados, além de cuidar da exposição dos itens na loja, para facilitar o processo de compra, e jamais deixar de fazer o pacote dos presentes", ensina ela, que é diretora da Associação Brasileira de Franchising. "O cliente quer sair com o pacote de presente pronto, isso mostra um cuidado do lojista e faz muita diferença", ressalta.

Fabricantes de brinquedos projetam expansão de 15%

Em todo o País, as vendas da indústria para o varejo que cobrirão a demanda do Dia das Crianças devem inflar em 15%, conforme estimativa do presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa. Somente para este período, foi encomendado 35% de todo o volume do ano, em produtos para o segmento, afirma o dirigente. "Estamos bastante desconectados da crise, porque não há como deixar de atender ao pedido de uma criança", considera Costa, afirmando que este é o momento do segmento crescer.

O presidente da Abrinq destaca que a alta do dólar devolveu a competitividade à indústria nacional. Ele afirma que, nos últimos anos, os fabricantes brasileiros têm ganhado mercado, passando de 25% de participação das vendas do setor, em 2005, para 44% no início de 2015. "Estamos conseguindo quase independência de marcas e licenciamentos internacionais (pois também não dá para ficar isento), mas o gosto e cultura por personagens nacionais vêm aumentando e fomentado produtos nesta linha", explica. O mercado brasileiro de brinquedo deve movimentar, este ano, perto de R$ 10 bilhões no varejo, e as vendas da Semana da Criança devem chegar a R$ 3,7 bilhões em todo o País, calcula o dirigente da Abrinq.

"O Dia das Crianças, de forma geral, é uma época boa de vendas", afirma a proprietária da rede Estrela Franquias, Fabiana Estrela. "Algumas pessoas até compram o presente de Natal junto", completa a empresária, que considera que, apesar de todo o cenário econômico, os consumidores estão "um pouquinho" mais otimistas. "A gente fica na dúvida do que irá acontecer, mas ao menos o final de ano dá uma sensação positiva", emenda Fabiana, que prevê crescimento de 15% para a rede de mais de 45 lojas. De acordo com o dirigente da Abrinq, uma das razões do bom desempenho da indústria de brinquedos no Brasil tem sido o Programa de Integração Produtiva com Fabricantes do setor no Mercosul, que, entre outras metas, busca estimular o desenvolvimento de fornecedores regionais.

Segundo a AGV, os brinquedos têm participação muito forte no varejo na semana do Dia das Crianças, representando de 30% a 40% do que é vendido em todo o ano. "Ainda existe o problema dos importados, que têm participação maior nas prateleiras de produtos, é um freio para o lojista se adequar à realidade atual", comenta o presidente da entidade, Vilson Noer.

Fonte: Jornal do Comércio

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