Proteger os sindicatos é proteger o trabalhador
Ataques aos sindicatos são sempre inerentes à economia de mercado. É importante destacar que eles são mais intensos nos momentos de avanço do liberalismo e do neoliberalismo – pós-década de 1970 – impulsionados pela direita ou extrema direita, o que mostra a dimensão política desse movimento. Na história do Brasil, esse movimento se repetiu algumas vezes:
- UDN – perseguiu Getúlio Vargas por ele ter rompido o poder oligárquico, criado a legislação trabalhista e o Ministério do Trabalho e oficializado os sindicatos;
- ditadura militar (1964 a 1985) – invadiu sindicatos e perseguiu sindicalistas;
- Michel Temer – reforma trabalhista;
- Jair Bolsonaro.
Esses grupos têm maioria no Congresso, tem instituições privadas e imensa parte dos meios de comunicação a seu dispor.
Imprensa antissindical
Atualmente, depois do amplo desmonte promovido pela reforma trabalhista, as elites dominantes fazem campanha para incentivar a oposição em massa dos trabalhadores ao pagamento da taxa assistencial. Defendem que a oposição, que por lei deve ser entregue por carta pelo próprio trabalhador, seja “facilitada” – por aplicativo.
Mas, na verdade, esta suposta “simplificação” é um incentivo para que empresas implementem práticas antissindicais, algo que muitas já fazem mesmo com o trabalhador tendo que apresentar as cartas de oposição. É dar ainda mais força para o lado mais forte e desproteger o lado dos trabalhadores.
Não estamos tratando aqui de uma questão de comodidade ou de liberdade individual, mas de resguardar o poder da classe trabalhadora como um contrapeso ao avanço do capitalismo selvagem. Cada trabalhador que, influenciado pelo bombardeio antissindical, se nega a pagar o sindicato depois da campanha salarial – mesmo sendo beneficiado por ela, prejudica o conjunto, pois enfraquece a capacidade de negociação.
Mas há uma campanha orquestrada – organizada pelo establishment, para que cada vez mais os trabalhadores se oponham aos próprios sindicatos e que tenham meios mais convidativos para isso. É uma tentativa de enfraquecer o coletivo, leia -se: entidades sindicais, associações e afins.
A enviesada e, muitas vezes, distorcida, divulgação em alguns meios de comunicação sobre as filas que se formam para entrega da carta de oposição, mostram isso. De forma descontextualizada, apresentam as filas e omitem os reajustes, a PLR e demais benefícios alcançados. Também não mostram que quem entrega a carta é uma pequena minoria.
Não mostram, sobretudo, que a relação entre esta taxa paga pelos trabalhadores e o benefício que eles conquistam em forma de acordos, convenções coletivas e negociações salariais é mais do que justa.
O trabalhador ganha muito mais pagando o sindicato, contribuindo com a campanha salarial, do que com o fim dos sindicatos, que o levaria a uma total vulnerabilidade frente às empresas e ao mercado financeiro.
Ataques como esses, que ocorrem o tempo todo, distorcem a informação para defender uma suposta inação dos sindicatos e contrariedade dos trabalhadores.
Forma-se, com isso, uma falsa ideia de que o moderno é o trabalhador sem direitos, como era no início da revolução industrial quando se trabalhava 10, 12, 14 horas por dia sem férias, sem descanso semanal, sem 13º, sem salário-mínimo.
Pesquisas e atualidade
O IBGE mostra que houve um aumento da sindicalização no Brasil. Isso confirma que os sindicatos, apesar de todos os ataques que sofrem, fazem diferença na vida do trabalhador, mantendo sua capilaridade e presença no cotidiano do povo.
Mas, na prática, os sindicatos enfrentam dificuldades de mobilização desde a crise que se instituiu com reforma de 2017. Crise que ocorre em um contexto diretamente ligado à precarização planejada e executada por setores conservadores e ligado à ascensão da extrema direita.
Uma democracia e soberania saudáveis e prósperas requerem investimento no povo trabalhador e, para isso, os sindicatos são fundamentais. Afinal, são a representação legítima deste povo.
É preciso proteger e fortalecer os trabalhadores e seus sindicatos de ataques avassaladores do mercado financeiro, das bancadas de políticos de direita e de campanhas antissindicais realizadas pela imprensa.
Fortalecer por meio da manutenção das ações sindicais, de articulações políticas, que devem ser implementadas por este governo – que elegemos para defender a classe trabalhadora – e do investimento em uma produtividade mais qualificada, com a criação de pólos de desenvolvimento, de pesquisa e tecnologia, que crie cadeias de empregos pelos quais o povo possa crescer do ponto de vista profissional e pessoal.
João Carlos Gonçalves, Juruna, 72 anos, é secretário-geral da Força Sindical e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo