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Serviços garantem a alta na ocupação de vagas na Capital
por Jousi Quevedo |
A três meses do fim do ano, já são conhecidos os líderes e os lanternas no campeonato da ocupação no mercado de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Serviços acumulam saldo positivo de 53 mil em 12 meses, alta de 5,1% (única que não caiu no período), e sustentam desde fevereiro a retomada da geração de postos na região.
Enquanto isso, a indústria de transformação e a construção civil perderam dez mil postos no mesmo período. O saldo foi suficiente para provocar ocupação negativa, de -0,2%, salva pelo confronto com agosto de 2011, que mostra alta de 1,9%. O desemprego manteve a queda registrada desde maio e ficou em 6,9% em agosto, levemente abaixo de julho (7%) e 10,4% inferior à taxa do mesmo mês de 2011 (7,7%).
O comportamento dos setores acendeu a luz amarela na equipe que coordena a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). A estatística e coordenadora da PED pelo Dieese, Ana Paula Sperotto, observa que o desempenho negativo de postos na atividade industrial (que enxugou 12 mil vagas em um mês) é indicativo forte de que as medidas adotadas pelo governo para impulsionar o segmento não estão sendo suficientes. "Só desonerar impostos, que afeta o consumo, não impediu a queda. Terão de ser tomadas outras medidas", avaliou Ana, ontem, na divulgação da nova pesquisa, ao lado da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social
(Fgtas) e Fundação de Economia e Estatística (FEE). "Se houver a retomada das contratações até dezembro, não será tão acelerada", preveniu.
Em agosto, além de serviços, que no mês avançaram 0,6%, o comércio gerou mais vagas, com alta de 3,5%, fechando com saldo de 13 mil postos. O desempenho de lojas e outros tipos de pontos de venda pode estar ligado a um escoamento de mão de obra, que acabou cortada na indústria ou que não obteve oportunidade em outros ramos. "O comércio tem muita rotatividade", demarcou a estatística. A PED, no mês passado, foi marcada ainda por sobe e desce de posições na ocupação. Os empregos com carteira assinada caíram 1,4%, com corte de 14 mil vagas. Irene Galeazzi, socióloga e ligada à FEE e Fgtas, vinculou a perda ao saldo industrial, ramo que concentra maior formalização das relações de trabalho.
Irene sugeriu que a queda de vagas com carteira, interrompendo uma década de ouro do setor formal, pode ser sintoma de um certo esgotamento na absorção de mão de obra, principalmente de menor qualificação. "A redução da taxa de desemprego tem uma trava, acionada pela dificuldade de suprir trabalhadores para as vagas abertas", analisou. Esta condição colocaria em xeque a tese de pleno emprego na RMPA (a pesquisa do IBGE mostra taxa abaixo de 4% da PEA). "Isso explica por que empregadores têm vagas e não conseguem preenchê-las."
Na dinâmica do mercado de ocupação, chama a atenção dos especialistas a elevação do segmento identificado por "outras posições", que reúne desde donos de negócio familiar a profissionais universitários autônomos. Em agosto, o grupo gerou dez mil oportunidades, e o saldo já é de 15 mil em 12 meses. A coordenação da PED aposta em mais queda do desemprego em 12 meses, e ocupação mais estável. O rendimento médio em julho (o levantamento capta sempre o valor do mês anterior) ficou em R$ 1.546,00 (ocupados), recuo de 0,3%, e de R$ 1.528,00 (assalariados), 0,2% acima de junho.
Em 12 meses, a variação é positiva em todos os valores. Ana apontou que negociações de diversas categorias com ganho acima da inflação e aumento real dos pisos mínimos nacional e regional garantiram a manutenção de vencimentos. Nas sete regiões pesquisadas pela PED, a Capital gaúcha ostentou a segunda menor taxa de desocupação, atrás de Belo Horizonte (5,2%). Mas a capital mineira teve crescimento do indicador (4%) ante julho. A tendência da taxa no grupo é também de reaquecimento do desemprego, que avançou para 11,1%, 3,7% acima do mês anterior e 1,8% superior ao de agosto de 2011. Recife e Salvador puxaram esta alta. Mas a ocupação média ficou acima do resultado da RMPA, com saldo positivo de 0,2% no mês e de 2,7% sobre os 12 meses anteriores.
Para Seade, falar em pleno emprego é uma temeridade
Falar em pleno emprego no Brasil é uma temeridade e embute interesses escusos, disse ontem o economista da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) Alexandre Loloian. Ele fez o comentário ao ser questionado se o ingresso de 80 mil pessoas na População Econômica Ativa (PEA) na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) em agosto, e de 135 mil na PEA das sete regiões metropolitanas do País nas quais a Seade e o Dieese coletam informações sobre emprego e desemprego, não implicará menores salários para os novos contratados.
A discussão se acalorou a partir do momento em que Loloian defendeu a tese de que os analistas do mercado são "irresponsáveis" ao imputar, nas análises macroeconômicas, a premissa de que os salários e a renda estão em níveis elevados por causa de uma eventual escassez de mão de obra. "Como podemos falar em dificuldade das empresas em encontrar gente para trabalhar se, na região metropolitana de São Paulo, a taxa de desemprego atinge 11,6% da PEA, e temos um contingente de 1,3 milhão de pessoas sem emprego?", disse Loloian.
Ele lembrou que, em Salvador, a taxa de desemprego em agosto chegou a 18,8%. "É claro que um ou outro setor tem encontrado dificuldades para contratar funcionários com elevado grau de preparação, como engenheiros, mas não estamos aqui para discutir especificidades", afirmou. A PEA, de acordo com Loloian, se manteve estagnada por algum tempo porque a atividade econômica estava parada.
As pessoas percebem isso e não saem para procurar emprego", disse, acrescentando que 75% dos empregos resultam de informações entre familiares, vizinhos e de currículos que parentes e amigos levam para as empresas. "É a ‘rádio peão’ que funciona nesses casos. "
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