Seminário Fetracos - Dirigentes sindicais debatem com Magri situações concretas do movimento sindical
Jousi Quevedo

O presidente Janta criticou o comodismo e o saudosismo do movimento sindical, não enfocando problemas atuais.

Após a palestra do ex-ministro Rogério Magri, o público participou do painel com perguntas, questionamentos e discursos.

O presidente do Instituto Girassol, Marcelo Furtado, falou da dificuldade de formação de dirigentes pela falta de garra política nas lutas sindicais e questionou também como atrair jovens para o movimento. Magri respondeu que os dirigentes dos movimentos sindicais tem de direcionar sua linguagem para atrair os mais novos.

O presidente do Sindec/Pelotas, Zé Luíz, fez sua colocação falando que o movimento sindical se decepcionou com a atuação do ex-presidente Lula por que os trabalhadores esperavam redução da jornada do trabalho, fim do fator previdenciário entre outras pautas trabalhistas. "O governo não apresentou proposta e não conseguiu mobilizar o movimento sindical para fazer essa mudança, apesar de Lula vir do movimento do trabalhador", criticou.

O ex-ministro discordou de Zé Luíz sobre as críticas a Lula, e disse que se sentia confortável em fazer, pois nunca votou no ex-presidente. Ele elogiou Lula em relação a política monetária internacional. Preferiu não se extender discutindo a atuação de Lula, pois "levaria o dia todo". Ele concordou, porém, que as dificuldades dos dirigentes sindicais para mobilizar a população são enormes. Elogiou, neste sentido, a organização do Seminário da Fetracos por buscar sanar esta problemática.

Jefferson Tiego, secretário da Juventude da Força Sindical, disse que em Cingapura, por exemplo, há hotéis para a juventude sindical. Ele afirmou que em parte os jovens não participam por não saber das cláusulas que lhes atingem. "Falta conscientização, inclusive dos professores, que falam mal do movimento sindical quando um aluno entra na sala de aula para falar do movimento estudantil", relatou. Magri afirmou que o grande problema é que o dirigente sindical se afastar das universidades. Segundo ele, falta ao sindicalista geral a capacidade de teorizar. "O movimento sindical não pode ter o preconceito de se achegar à universidade. Essa aproximação está atrasada 20 e 30 anos. A CUT só criou uma boa formação de seus dirigentes quando se aproximou das universidades", exemplificou.

João Pereira, do Conselho do Sindec-POA, analisa a situação a partir da dificuldade de ter integração com sua base. "Deve haver uma qualificação sindical para atuar diretamente na base, por que tem muitos não sabem o que falar se for até o trabalhador", afirmou.

"Nós já estamos fazendo esta mudança dentro do movimento sindical", respondeu Magri. "O que não podemos perder é a capacidade de indignação. Por exemplo, como reagimos aquele menino que caiu da lage no Rio de Janeiro que andou 86 quilômetros de hospital em hospital até chegar a um e morrer. Ele é trabalhador ou é filho de um trabalhador. E o que as centrais fizeram? Nada", disse.

Para a produtora cultural da Força Sindical, Sílvia Duarte, há muitas questões sociais deixadas de lado, envolvidas em toda a perspectiva do Trabalho Decente. Ela comentou os ciclos de debates realizados pela Força para capacitar sindicalistas, sendo o primeiro ciclo sobre cultura, o que "era um bicho papão para o dirigente sindical". "Outro ponto é a tecnologia, se o dirigente não sabe tem que perguntar", destacou. Magri sugeriu que o dirigente sindical busque sempre interagir diante do conteúdo e da prática. "É um mix entre conhecimento, emoção, expressão e mobilização", resumiu.

O presidente do Sindec/Canoas, Antônio Fellini, questionou sobre a unificação das convenções coletivas. Ele disse que um salário para um caixa de supermercado em Canoas e Porto Alegre, em torno de R$608, é "muito baixo".Magri sugeriu mais uma vez mobilização, com acampamentos, pressão intensa e paralisação. "Essa história precisa ser resgata e refeita novamente. Temos exemplos incríveis no movimento metalúrgico. Tem que sair daqui com uma ação", disse.

O diretor do Sindec-POA e da Força RS, Cláudio Côrrea, disse que se os comerciários se julgam uma "elite", mesmo tendo os piores salários do país. "Perdemos o poder de mobilização com a bandeira que tínhamos, que foi nos últimos 25 anos o sábado inglês e o domingo", afirmou, para explicar o comodismo da categoria. "É preciso fazer o resgante de uma bandeira que vá atrair o interesse da categoria", apontando que 30% dos comerciários são jovens e funcionários de shooping que acham legal trabalhar no domingo. "Os jovens não entendem talvez que passar um tempo de lazer, seja com a família, amigos ou sozinho, é algo saudável, um direito humano", destacou.

Mário de Lima, assessor econômico da Força Sindical-RS, comentou a política do Trabalho Decente da OIT e perguntou a diferenciação desta política para o Brasil e quais seriam os pontos para o sindicalismo brasileiro além dos que foram acordados.

O tesoureiro do Sindec-POA, Luis Carlos Barbosa, discordou de que os comerciários não saibam mais lutar. "O perfil do comerciário mudou e o que estamos vendo hoje que há uma resolução cultural no país e graças ao Lula tivemos a universalização das universidades", disse.

Segundo o tesoureiro, os jovens devem se integrar e por exemplo ler a Consolidação das Leis Trabalhistas antes de abrirem mão de seus direitos. "O movimento sindical tem de se reciclar, ter uma nova linguagem. Mas afirmo, nunca o trabalhador rejeitou o dirigente sindical nas lojas", informou.

O vice-presidente da Fetracos, Dioníso Mazui, falou do sindicalistas que muito fala e pouco faz ou tem atitudes diferentes do que prega. Ele questionou sobre a experiência de estruturação de ferramenta para formação sindical aos moldes do instituto em que o ex-ministro trabalha.

O presidente Janta criticou o comodismo e o saudosismo do movimento sindical, não enfocando problemas atuais. Ele relatou o caso em que três trabalhadores foram concretados vivos em uma obra em Porto Alegre. O sindicalista acredita que os acidentes de trabalho e o acidente de trabalho, aliado às condições nefastas de trabalho, concentram os maiores problemas da categoria. Segundo Janta, falta ainda comprometimento de dirigentes para se reunir, participar dos eventos e lutar pelos trabalhadores. "Lutar pelos trabalhadores é lutar pela educação e isso soubemos no Força do Pensamento, quem estava lá?", questionou. Janta comparou o aumento da luz com o aumento percentual do salário do empregado, que é muito menor. "É fila na Previdência, fila na saúde, Porto Alegre tem apenas 3% de saneamento. Tomar água poluída é Trabalho Decente. Ficar semanas esperando uma ficha de saúde é Trabalho Decente?", questionou.

Texto: Josemari Quevedo

Fotografias: Cíntia Rodrigues

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