Retomada da economia deve ocorrer após 2010
Régis Araújo

A crise da economia mundial deve continuar nas manchetes dos jornais durante este ano. A estimativa é de que a partir de 2010 o cenário comece a melhorar. Pelo menos essa é a expectativa do professor do departamento de economia da Universidade de São Paulo (USP) Celso Luiz Martone que esteve em Porto Alegre falando dos desdobramentos da turbulência e do impacto no Brasil.

A crise da economia mundial deve continuar nas manchetes dos jornais durante este ano. A estimativa é de que a partir de 2010 o cenário comece a melhorar. Pelo menos essa é a expectativa do professor do departamento de economia da Universidade de São Paulo (USP) Celso Luiz Martone que esteve em Porto Alegre falando dos desdobramentos da turbulência e do impacto no Brasil.

Jornal do Comércio - É possível ser otimista quanto ao final da crise econômica?

Celso Luiz Martone - É difícil ser otimista quando você lê o que está acontecendo, mas não é necessário ser tão pessimista. Às vezes, ao ouvir algumas pessoas falando, passa a impressão de que o mundo vai acabar. É preciso reconhecer que os governos estão fazendo muitas ações em termos de política monetária e fiscal. Isso leva tempo, no entanto dará algum resultado. Recentemente, o presidente do Fed (Banco Central norte-americano - Ben Bernanke) apontou que o ano estava praticamente perdido, mas para 2010 eles esperavam uma recuperação. É possível. Se for assim, o Brasil terá um ano muito ruim, depois de vários anos de crescimento. Em 2009, o PIB brasileiro, provavelmente, não cresce ou vai ser até negativo. Porém, a partir do próximo ano, pode haver uma retomada moderada da atividade econômica.

JC - Qual a diferença do impacto da crise no Brasil em relação ao verificado em outros países?

Martone - O Brasil está mais inteiro, o sistema bancário não está quebrado. A crise tem um caráter financeiro. É a pior que existe, entre as várias crises econômicas que já aconteceram. O Brasil, felizmente, não tem uma crise financeira atualmente. Hoje, o sistema bancário brasileiro está bem capitalizado, solvente, tem lucro, até demais. Isso faz muita diferença.

JC - O corte da taxa de juros foi feito no tempo adequado?

Martone - É fácil julgar posteriormente. Você pode dizer que era viável ter feito isso já em janeiro, mas o fato é que ninguém esperava que o Brasil fosse contaminado com tanta rapidez. O dado de PIB do último trimestre de 2008, por exemplo. Sabia-se que seria negativo, no entanto se imaginava uma queda de até 2,6% e caiu 3,6%, é algo inédito e o Banco Central reagiu a isso. Acredito que essa taxa de juros atual é provisória, deve cair ainda mais. A minha expectativa é de que se chegue em julho ou agosto com uma taxa de um dígito, algo como 9%. Tem espaço para reduzir. Agora, a impressão é de que todo mundo está consciente de que o negócio é sério. Normalmente, o Banco Central adotava um passo de tartaruga, quando tinha que reduzir a taxa. Dessa vez eles estão reagindo mais rapidamente.

JC - As dificuldades da economia podem contaminar os investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)?

Martone - Em princípio, não. O PAC é algo dirigido pelo governo, que está dizendo que não faltará dinheiro para os projetos. Isso é bom, porque a melhor coisa que o governo pode fazer hoje é investir, especialmente em infraestrutura. O PAC é uma peça importante que tem que ser olhado com prioridade pelo governo.

JC - A expectativa é de diminuição no custo de crédito?

Martone - Essa é uma dúvida. Alguma redução de custo terá, porque o juro caiu bastante e continuará caindo. No entanto, os bancos estão muito cautelosos. Em um primeiro momento, até fevereiro, eles deram uma freada no crédito, tornando-o mais seletivo, mais caro, especialmente para as empresas. A expectativa é de que os bancos, com essa redução de juros, fiquem mais propensos a normalizar o crédito. Mas tem que esperar para ver.

JC - A prorrogação da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em veículos novos é uma medida adequada?

Martone - Eu preferiria outras ações que, acho, seriam mais inteligentes do que a opção adotada. Uma forma de dar capital de giro para as empresas é postergar o recolhimento de impostos. É simples, basta baixar um decreto. O sistema bancário está com problemas para dar crédito, então se faz um capital de giro direto. Uma ação que tem que ser tomada de forma geral. Por que o benefício é só para a indústria automobilística? Todos os segmentos estão sofrendo com os efeitos da crise.

Fonte: Jornal do Comércio

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