Pressão de entrada no mercado de trabalho diminui em Porto Alegre
Dados divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram que a taxa de desemprego em Porto Alegre teve a quarta queda seguida, atingindo 3,8% em julho. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) também apontou que o número de empregados em Porto Alegre registrou queda de 2,8%, apresentando o resultado de menos 52 mil pessoas ocupadas no mercado de trabalho. A desocupação ficou estável nos 3,8%. Também estável está o rendimento médio do trabalhador, em R$1.670,14.
Segundo a economista do Dieese-RS Daniela Sandi, a queda da taxa de desemprego ao mesmo tempo da queda do número de empregados em Porto Alegre está relacionada à diminuição de pressão da População Economicamente Ativa (PEA) no mercado de trabalho. "A PEA diminuiu porque muitas pessoas deixaram o mercado e estão inativas", explica.
Quando as pessoas saem da PEA passam a ser contabilizadas dentro da PIA (População em Idade Ativa), incluídos no índice inativos, aposentados ou estudantes.
Uma situação específica é o fato de que há um grande número de ofertas em ocupações rejeitadas pelo público jovem, principalmente, que está se afastando do mercado de trabalho para se qualificar. Baixas remunerações e elevadas jornadas são os pontos críticos do emprego neste segmento.
No comércio percebemos que tem um grande índice de jovens ingressando nas faculdades para se qualificar, porque os postos de emprego que ocupavam não correspondiam às expectativas tanto monetárias quanto qualitativas. Falta também uma base anterior, porque não adianta apenas estudar sem exigir que as empresas se preparem e participem do processo de especialização de mão de obra", afirma o secretário nacional da Juventude da Força Sindical e diretor do Sindec, Jefferson Tiego.
O sindicalista também aponta ausência de políticas públicas de qualificação profissional dos jovens para que reingressem no mercado de trabalho, como as escolas profissionalizantes. "Estes fatores são fundamentais", aponta Tiego.
Nos supermercados, por exemplo, 50% dos desligamentos das empresas se dão por iniciativa do próprio trabalhador, principalmente nas funções de empacotador e caixa.
O Dieese divulgará a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) na próxima quarta-feira, dia 28 de agosto.
Leia a entrevista com a economista para saber como está o mercado de trabalho:
Sindec: Como interpretar o cenário apresentado pelas pesquisas de emprego em que a taxa de desemprego e o número de desempregados caíram ao mesmo tempo?
Daniela Sandi: A taxa de desemprego é determinada pela PEA, que são os ocupados e os desempregados. Quando se tem uma queda na taxa de desemprego e uma queda na ocupação significa que houve uma pressão menor no mercado de trabalho e as pessoas que estavam pressionando a taxa saíram e foram para a inatividade por algum motivo. Trabalhamos com a hipótese do trabalhador ter voltado a estudar, o estudante que resolveu só estudar diante da melhoria da renda familiar; o subchefe por cônjuge, que com a melhora na renda permitiu, em geral às mulheres, se dedicar aos serviços da casa por cuidados familiares ou ampliar estudos; enfim, são variados motivos. E tem ainda a aposentadoria em que o trabalhador passa para a inatividade e não está mais no mercado de trabalho.
R: As pessoas que saíram do mercado do trabalho não foram para a informalidade, por quê?
DS: Uma vez que estas pessoas saíram do mercado de trabalho elas não vão para informalidade, elas estão na inatividade. Informalidade está dentro do mercado de trabalho, mas sem contrato formal, sem as condições de trabalho previstas na CLT (Consolidação das Leis de Trabalho), mas é um trabalhador como outro qualquer que deveria ter seus direitos garantidos pela Previdência e pelas relações de trabalho do Brasil. Está no mercado de trabalho e está exercendo uma atividade remunerada. O ocupado é aquele que tem uma atividade frequente e que é remunerado, independente de ser formal, informal ou autônomo.
R: Este quadro já vinha se desenhando mês passado, quando aumentou o número pessoas saindo do emprego para estudar. A nova edição da pesquisa confirma?
DS: Quando há melhoria de renda e das condições gerais do mercado de trabalho os estudantes que contribuem com a renda familiar e têm dificuldade de conciliar jornada de trabalho tendem a sair do mercado e voltar a estudar. Não deixa de ser uma maneira de se qualificar.
Texto: Josemari Quevedo