Gaúchos iniciam 2014 com menos dívidas
Gabriella Oliveira

Média de débitos entre os gaúchos passou de 60,1% em dezembro de 2013 para 59,3% em janeiro de 2014.

O crescimento moderado do consumo no decorrer dos últimos 12 meses impactou na média de endividamento dos gaúchos, que iniciaram 2014 devendo menos que em janeiro do ano passado. Além do percentual de famílias endividadas sofrer queda nesse período, encolhendo de 63,9% (no primeiro mês de 2013) para 54,4% no início deste ano, o comprometimento da renda familiar com débitos também diminuiu. Com isso, a média de endividamento das famílias gaúchas  passou de 60,1% em dezembro de 2013 para 59,3% em janeiro de 2014. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor Gaúcho (Peic-RS), divulgada ontem pela Fecomércio-RS.

Conforme a economista-chefe da entidade, Patrícia Palermo, foram entrevistadas 600 famílias de diversas classes econômicas durante o levantamento. O resultado mostra que também a tomada de crédito cresceu de forma moderada, “influenciada pela elevação da taxa de juros e por uma maior seletividade dos bancos na concessão de crédito”, segundo a economista.  Patrícia ressalta que outro fator que pode ter impactado no cenário desse período é que alguns itens que anteriormente podiam ser adquiridos por crédito ficaram mais caros com o fim das desonerações de impostos. “Mesmo assim,  é relevante o fato de que a média de endividamento entre os gaúchos vem caindo há 12 meses. Isso, somado aos dados do Banco Central e da Serasa, que afirmam que a inadimplência da população também está em queda, atesta que o aumento real dos salários verificado no último ano manteve a capacidade de pagamento dos indivíduos, apesar da inflação”, considera a economista.

Com o mercado de trabalho aquecido, taxas de desemprego baixas e ganhos salariais acima da inflação, o empenho da renda futura com o cartão de crédito seduziu 90,02% das famílias que atualmente se encontram endividadas. Os demais compromissos financeiros dos gaúchos foram assumidos na forma de carnês (12,8%) e pelo cheque especial (6,3%). A economista-chefe da Fecomércio-RS acredita que a população “entendeu” a vantagem do cartão de crédito sobre o cheque especial, uma vez que o primeiro - além de “prático, seguro, com limite pré-aprovado e pontuações e bônus aos usuários” - se pago na íntegra, é isento de juros, enquanto o segundo cobra taxas sempre que for utilizado.

Na avalição de Patrícia, um dado que parece ter sido desconsiderado pelos entrevistados são os compromissos a longo prazo, como o pagamento de parcelas da compra de automóveis e do crédito imobiliário. “Isso não está aparecendo na pesquisa, cujas respostas parecem estar restritas às dívidas de curto prazo”, observa a economista. Já no que ser refere à inadimplência, o saldo foi positivo para o bolso da população gaúcha: o percentual de famílias com contas em atraso apresentou redução em janeiro deste ano (13,8%) na comparação com o mesmo período em 2013 (27,7%). “A pesquisa ainda constatou um recuo no percentual de famílias que não terão condições de pagar suas dívidas em atraso no decorrer de 30 dias. Em janeiro do ano passado, esse índice foi de 5,9%, contra 3,9% em janeiro de 2014”, compara Patrícia, argumentando que, com aumento de salários acima da inflação, muitos trabalhadores puderam honrar dívidas antigas e consumir novos produtos.

O estudo também apontou que a parcela da renda familiar destinada ao pagamento de dívidas apresentou o menor nível da série, iniciada em 2010. Em janeiro de 2014, houve redução para 19,2%. Com isso, a média do indicador passou de 25,3% em dezembro de 2013 para 25% em janeiro de 2014. “Este dado consolida o menor comprometimento da renda com dívidas, mesmo que o nível ainda esteja em um patamar relativamente elevado no período de 12 meses”, diz o presidente da Fecomércio-RS, Zildo De Marchi. O dirigente avalia que os resultados da Peic-RS de janeiro confirmam um cenário “relativamente saudável” do endividamento. “A redução do comprometimento com dívidas é influenciada pela manutenção do bom desempenho do mercado de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre”, opina De Marchi.

Brasileiros não controlam gastos

Oito em cada dez brasileiros não sabem controlar suas despesas, segundo levantamento realizado pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Ao todo, foram consultados 656 consumidores de todas as capitais brasileiras. Desse total, 81% disseram que têm pouco ou nenhum conhecimento sobre como fazer o controle das finanças pessoais.

Quando perguntados sobre o conhecimento exato de seus gastos, considerando receitas (como salário, aluguel etc.) e despesas (como contas, impostos etc.), apenas 18% dos consumidores disseram ter noção exata dos valores. Já uma parcela de 71% afirmou que tem conhecimento parcial das cifras, enquanto 10% não sabem ou têm baixa noção sobre as entradas e saídas de seu orçamento pessoal. O 1% restante se refere às pessoas que não quiseram responder. “É uma questão de hábito. Mais dinheiro no bolso nem sempre significa melhor comportamento financeiro, incluindo pagamento de contas, uso do crédito e hábito de compras”, diz Luiza Rodrigues, do SPC Brasil.

Fonte: Jornal do Comércio

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