Ex-ministro Magri palestra na abertura do I Seminário de Formação Política e Econômica da Fetracos sobre atuação sindical
Jousi Quevedo

Presidente Janta afirmou que a federação está fazendo seu papel em promover conhecimento aos seus dirigentes para intervir em prol dos trabalhadores.

O presidente da Fetracos, Clàudio Janta, e o vice-presidente Dionísio Mazui, o diretor de Formação da Fetracos, Antenor Federizzi, abriram o I Seminário de Formação Política e Econômica da Fetracos, nesta quarta-feira, em Bento Gonçalves. "Discutiremos pontos que para o sindicalismo são de extrema importância: a história do movimento sindical e os objetivos desse processo, além  das questões que acreditamos caber a nós intervir: a política. O ex-ministro do Trabalho, Rogério Magri, tem a experiência única no movimento sindical e vem de São Paulo nos falar de sua visão. Já Mário de Lima, mestre da áera acadêmica em Economia, também vem falar numa linguagem dos trabalhadores sobre as mudanças econômicas pelas quais passam nosso país que nos  interessam e nos explicar por que a redução de juros é importante diante da massa de informação que aliena a população e é amplamente defendida por muitos meios de comunicação comprometidos só com o capital. Enfim, vamos trocar conhecimento, um valor que ninguém nos tira", disse Janta,  em saudação aos palestrantes e participantes.

Abrindo os painéis, o ex-ministro do Trabalho Rogério Magri palestrou sobre "A Estrutura Política Brasileira e o Movimento Sindical". Ele atuou no governo de Fernando Collor de Mello como titular da Pasta do Trabalho por dois anos. Magri tem larga experiência no movimento sindical, desde 1962, já tendo sido presidente nacional da Central Geral dos Trabalhadores (CGT).

Magri relatou episódios históricos nos anos 1970 em que negociou, como sindicalistas, com os governo militar. O ex-ministro criticou fortemente o regime militar e a alienação da população em não se indignar com fatos históricos. Também comentou que os movimentos sindicais carecem de foco e preparação para negociar com os patrões.

"A prioridade das pessoas está na agenda, portanto, ter um contato direto como sindicalista com a agenda dos patrões - não adianta negociar com os advogados -, é imprescindível, é com os dirigentes que nós sindicalistas temos que negociar e nos relacionar. Tratamos parlamentares, patrões como senhores, como se nós dependêssemos deles e eles não dependessem de nós, o que não é verdade", disse Magri, sobre as relações dos representantes sindicais com os patrões.

Segundo o ex-ministro, o patrão espera que o dirigente sindical esteja panfleteando na porta das indústrias, mas também que se prepare minimamente para sentar na mesa de negociação com condições de argumentar e saiba o que falar e o que quer. "90% dos sindicalistas vão para a mesa sem saber o que foi o lucro do patrão. E daí vão discutir o que com o patrão?", questionou.

"O dirigente sindical tem que ser alguém de coragem, que conheça e não tenha medo de ir na base", frisou.

A mobilização também é fundamental: "Não existe negociação coletiva sem mobilização dos trabalhadores e sabemos as dificuldades de unir os comerciários, mas é necessário solucionar este desafio", disse.

A desinibição dos sindicalistas também foi colocada como um problema a ser sanado. O ex-ministro insistiu ainda que os sindicalistas tem de fazer a política sindical, mas não pode abrir mão da política partidária.**

****Debate com o público**

O presidente do Instituto Girassol, Marcelo Furtado, falou da dificuldade de formação de dirigentes pela falta de garra política nas lutas sindicais e questionou também como atrair jovens para o movimento. Magri respondeu que os dirigentes dos movimentos sindicais tem de direcionar sua linguagem para atrair os mais novos.

O presidente do Sindec/Pelotas, Zé Luíz, fez sua colocação falando que o movimento sindical se decepcionou com a atuação do ex-presidente Lula por que os trabalhadores esperavam redução da jornada do trabalho, fim do fator previdenciário entre outras pautas trabalhistas. "O governo não apresentou proposta e não conseguiu mobilizar o movimento sindical para fazer essa mudança, apesar de Lula vir do movimento do trabalhador", criticou.

O ex-ministro discordou de Zé Luíz sobre as críticas a Lula, e disse que se sentia confortável em fazer, pois nunca votou no ex-presidente. Ele elogiou Lula em relação a política monetária internacional. Preferiu não se extender discutindo a atuação de Lula, pois "levaria o dia todo". Ele concordou, porém, que as dificuldades dos dirigentes sindicais para mobilizar a população são enormes. Elogiou, neste sentido, a organização do Seminário da Fetracos por buscar sanar esta problemática.

Jefferson Tiego, secretário da Juventude da Força Sindical, disse que em Cingapura, por exemplo, há hotéis para a juventude sindical. Ele afirmou que em parte os jovens não participam por não saber das cláusulas que lhes atingem. "Falta conscientização, inclusive dos professores, que falam mal do movimento sindical quando um aluno entra na sala de aula para falar do movimento estudantil", relatou. Magri afirmou que o grande problema é que o dirigente sindical se afastar das universidades. Segundo ele, falta ao sindicalista geral a capacidade de teorizar. "O movimento sindical não pode ter o preconceito de se achegar à universidade. Essa aproximação está atrasada 20 e 30 anos. A CUT só criou uma boa formação de seus dirigentes quando se aproximou das universidades", exemplificou.

João Pereira, do Conselho do Sindec-POA, analisa a situação a partir da dificuldade de ter integração com sua base. "Deve haver uma qualificação sindical para atuar diretamente na base, por que tem muitos não sabem o que falar se for até o trabalhador", afirmou.

"Nós já estamos fazendo esta mudança dentro do movimento sindical", respondeu Magri. "O que não podemos perder é a capacidade de indignação. Por exemplo, como reagimos aquele menino que caiu da lage no Rio de Janeiro que andou 86 quilômetros de hospital em hospital até chegar a um e morrer. Ele é trabalhador ou é filho de um trabalhador. E o que as centrais fizeram? Nada", disse.

Para a produtora cultural da Força Sindical, Sílvia Duarte, há muitas questões sociais deixadas de lado, envolvidas em toda a perspectiva do Trabalho Decente. Ela comentou os ciclos de debates realizados pela Força para capacitar sindicalistas, sendo o primeiro ciclo sobre cultura, o que "era um bicho papão para o dirigente sindical". "Outro ponto é a tecnologia, se o dirigente não sabe tem que perguntar", destacou. Magri sugeriu que o dirigente sindical busque sempre interagir diante do conteúdo e da prática. "É um mix entre conhecimento, emoção, expressão e mobilização", resumiu.

O presidente do Sindec/Canoas, Antônio Fellini, questionou sobre a unificação das convenções coletivas. Ele disse que um salário para um caixa de supermercado em Canoas e Porto Alegre, em torno de R$608, é "muito baixo".Magri sugeriu mais uma vez mobilização, com acampamentos, pressão intensa e paralisação. "Essa história precisa ser resgata e refeita novamente. Temos exemplos incríveis no movimento metalúrgico. Tem que sair daqui com uma ação", disse.

O diretor do Sindec-POA e da Força RS, Cláudio Côrrea, disse que se os comerciários se julgam uma "elite", mesmo tendo os piores salários do país. "Perdemos o poder de mobilização com a bandeira que tínhamos, que foi nos últimos 25 anos o sábado inglês e o domingo", afirmou, para explicar o comodismo da categoria. "É preciso fazer o resgante de uma bandeira que vá atrair o interesse da categoria", apontando que 30% dos comerciários são jovens e funcionários de shooping que acham legal trabalhar no domingo. "Os jovens não entendem talvez que passar um tempo de lazer, seja com a família, amigos ou sozinho, é algo saudável, um direito humano", destacou.

Mário de Lima, assessor econômico da Força Sindical-RS, comentou a política do Trabalho Decente da OIT e perguntou a diferenciação desta política para o Brasil e quais seriam os pontos para o sindicalismo brasileiro além dos que foram acordados.

O tesoureiro do Sindec-POA, Luis Carlos Barbosa, discordou de que os comerciários não saibam mais lutar. "O perfil do comerciário mudou e o que estamos vendo hoje que há uma resolução cultural no país e graças ao Lula tivemos a universalização das universidades", disse.

Segundo o tesoureiro, os jovens devem se integrar e por exemplo ler a Consolidação das Leis Trabalhistas antes de abrirem mão de seus direitos. "O movimento sindical tem de se reciclar, ter uma nova linguagem. Mas afirmo, nunca o trabalhador rejeitou o dirigente sindical nas lojas", informou.

O vice-presidente da Fetracos, Dioníso Mazui, falou do sindicalistas que muito fala e pouco faz ou tem atitudes diferentes do que prega. Ele questionou sobre a experiência de estruturação de ferramenta para formação sindical aos moldes do instituto em que o ex-ministro trabalha.

O presidente Janta criticou o comodismo e o saudosismo do movimento sindical, não enfocando problemas atuais. Ele relatou o caso em que três trabalhadores foram concretados vivos em uma obra em Porto Alegre. O sindicalista acredita que os acidentes de trabalho e o acidente de trabalho, aliado às condições nefastas de trabalho, concentram os maiores problemas da categoria. Segundo Janta, falta ainda comprometimento de dirigentes para se reunir, participar dos eventos e lutar pelos trabalhadores. "Lutar pelos trabalhadores é lutar pela educação e isso soubemos no Força do Pensamento, quem estava lá?", questionou. Janta comparou o aumento da luz com o aumento percentual do salário do empregado, que é muito menor. "É fila na Previdência, fila na saúde, Porto Alegre tem apenas 3% de saneamento. Tomar água poluída é Trabalho Decente. Ficar semanas esperando uma ficha de saúde é Trabalho Decente?", questionou.

Magri, diante das posições expostas, disse que o que a OIT está fazendo com o Trabalho Decente é criar uma maneira de barrar as péssimas condições do trabalho na China. "O que está em discussão, no caso do Brasil, é a decência das condições de trabalho". No entanto, o ex-ministro elogiou a atuação do movimento sindical do país, que está qualificando, ressaltando como aliar estes problemas apontados por Janta nas assembleias de convenção coletiva.

Texto: Josemari Quevedo

Fotografias: Cíntia Rodrigues 

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