Clàudio Janta se posiciona em relação à divisão sindical e partidária no FSM
Gabriella Oliveira

Nos bastidores, entidades tradicionais estão descontentes com a influência da prefeitura e da Força Sindical na programação.

A nove dias da abertura, o Fórum Social Temático de Porto Alegre vive uma crise nos bastidores, marcada por uma divisão sindical e partidária. Descontentes com a perda de espaço na organização, entidades como CUT, Marcha Mundial das Mulheres e Associação Brasileira de ONGs (Abong) decidiram abandonar o evento, previsto ocorrer na última semana do mês.

Os dissidentes não aceitam que grupos ligados à maçonaria e a setores empresariais participem das discussões. Além disso, questionam a influência da Força Sindical e a apropriação do Fórum pela administração municipal. Em novembro, o prefeito José Fortunati (PDT) sancionou uma lei transformando a iniciativa em data fixa no calendário da cidade.

– Quando sentamos para conversar, percebemos que o evento já estava completamente descaracterizado, então optamos por sair. Essa institucionalização não tem nada a ver. O Fórum não é uma articulação de governo – afirma Mauri Cruz, dirigente nacional da Abong.

Historicamente vinculada ao Fórum e ao PT, a CUT seguiu o mesmo caminho ao se dar conta de que perdia terreno para a Força Sindical. A Força, presidida no RS pelo vereador Cláudio Janta, do mesmo partido de Fortunati, era minoritária e agora é uma das líderes.

– Estranhamos a atitude da CUT. Eles fizeram parte de todas as reuniões e concordaram com tudo. Agora, aos 45 minutos do segundo tempo, resolvem tirar o time de campo. Não dá para entender – diz Janta.

No Paço, a ruptura é atribuída a diferenças partidárias.

– Se a prefeitura estivesse na mão do PT, duvido que haveria tantas críticas. Estaria tudo em paz – avalia um integrante da gestão Fortunati.

O secretário de Governança Local, Cézar Busatto (PMDB), ressalta que a Semana do Fórum Social Mundial foi instituída “com apoio dos movimentos sociais”. Segundo ele, não se trata de “apropriação”, mas de garantir “que não faltem recursos orçamentários para o encontro”. Na terça-feira, a prefeitura assegurou a presença do Conselho do Orçamento Participativo (OP) no evento.

– Entendemos que o Fórum é uma marca de Porto Alegre. Esperamos que essas divergências sejam resolvidas – resume Busatto.

Entrevista

Idealizador do Fórum Social Mundial, o empresário Oded Grajew discorda das críticas à edição temática do evento na Capital e minimiza a crise. segundo ele, que participará do encontro, o evento está garantido, apesar das dissidências.

Zero Hora - O senhor concorda com a crítica de que está havendo uma descaracterização do Fórum?

Oded Grajew - Não. Continuamos discutindo mudanças no modelo de desenvolvimento, cada um da sua forma, com a sua teoria. Nós, por exemplo, faremos um debate sobre o Programa Cidades Sustentáveis. Convidamos secretários municipais e prefeitos de todo o país para discutir, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e com a Confederação Nacional dos Municípios.

ZH - A CUT critica a participação de grupos considerados neoliberais no evento. O que o senhor acha da posição da entidade?

Grajew - Essa é a opinião da CUT, e não posso falar pela CUT. Mas o Fórum não é uma entidade da qual só participa quem é sócio. É um espaço aberto e auto-organizado. Participa quem tiver vontade. E quem quiser se retirar, que se retire, sem problemas.

ZH - Os descontentes dizem que esse Fórum não tem autorização do comitê internacional e que não deveria acontecer. Como o senhor avalia isso?

Grajew - Ao conselho internacional cabe apenas decidir o evento mundial. Para fazer Fórum Temático, não precisa de autorização nem de licença. Organiza quem quiser, na data que quiser, no espaço que quiser. Decidimos fazer em Porto Alegre para não deixar janeiro sem atividades. O Fórum Mundial em Túnis ficou para março, por uma questão de agenda.

ZH - O Fórum Temático sai mesmo com as disistências?

Grajew - Sim, com certeza. Já está marcado, e não vamos voltar atrás.

Fonte: Zero Hora

Voltar pro topo