Após Lava Jato, operários demitidos no polo naval buscam emprego no comércio
Ligiane Brondani

Setor que tenta absorver trabalhadores também sofre com a crise provocada após investigações envolvendo contratos da Petrobras.

A cada nova fase da Operação Lava Jato, aumenta a preocupação em Rio Grande quanto ao futuro do Polo Naval. Na cidade, que concentra os os maiores investimentos da Petrobras no Estado, trabalhadores demitidos agora buscam oportunidades no comércio, setor que também sofre os efeitos da crise na estatal.

As quatro empresas que gerenciam os estaleiros da região são investigadas pela Polícia Federal (PF). O caso mais delicado é o da Engevix, empresa que comanda o Estaleiro Rio Grande e que tem contrato de US$ 6,5 bilhões para construir oito cascos de plataformas e três navios sonda.

Trabalhadores do estaleiro estão apreensivos. Rosângela Gondran, 44 anos, disse à Rádio Gaúcha que, entre os funcionários, clima de incerteza é generalizado.

“Os funcionários conversam muito sobre essa crise do Polo Naval e temos muito medo de que Rio Grande vire uma cidade fantasma, o mesmo que aconteceu em Macaé, no Rio de Janeiro, que recebeu uma grande obra e logo depois acabou tudo. Muitos colegas já foram demitidos”, disse.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande confirma as demissões. Só com a conclusão do primeiro dos oito cascos, da P-66, em dezembro, cerca de 3 mil trabalhadores foram dispensados.

Um deles é Arnaldo Abreu, de 32 anos, natural de Encruzilhada do Sul. Durante um ano e oito meses, trabalhou no Polo Naval com movimentação de cargas. Nesse período, parte do salário era reservado para cursos de qualificação. Fez um total de nove cursos, passou por diversas funções e teve promoções. Acabou demitido com a conclusão da plataforma P-66. Como centenas de trabalhadores, ele migrou para o comércio da cidade e hoje trabalha em uma loja de eletrodomésticos.

“Criei aquela expectativa com o Polo Naval e depois, frustrado, tive que migrar para o comércio. A cidade está passando por uma crise. Até no comércio, sentimos que no final do mês o pessoal não quer comprar, segurando o dinheiro que tem, na expectativa que o Polo Naval volte a empregar”, disse.

O comércio que hoje absorve a mão de obra dispensada do Polo Naval é o mesmo que passa por momentos de dificuldades. Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Carlos Pavão, o impacto da diminuição do ritmo de obras no Polo Naval já reflete nas vendas do comércio.

“Na área de vestuário, que é bastante representativa do comércio como um todo, ela teve uma queda de 20 a 30%. Nos tivemos um Natal de 2014 com a atividade econômica já indicando problema. O Natal de 2014 não conseguiu sequer repetir os número do Natal de 2013”, salientou Pavão.

Os setores hoteleiro e imobiliário também apresentam dificuldades e quedas nos lucros. Nos hotéis, em pesquisa da reportagem, o valor da diária chegou a cair 25%. A ocupação, em alguns hotéis, agora chega a 5%. Nas ruas, centenas de placas anunciam imóveis para vender ou alugar, já que a oferta é maior que a procura.

O prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer, acredita que esta seja apenas uma fase ruim da indústria naval, mas reconhece que a situação é preocupante.

“Estamos acompanhando de perto essa situação, tanto com o tomador do serviço, como com o próprio governo federal, externando a nossa preocupação. Vemos que a indústria naval é importante para o Brasil, para o Estado e, principalmente, para a nossa região, por tudo que gerou de emprego, por impostos recolhidos”, relatou Lindenmeyer.

Propina da Petrobras em Rio Grande

Informações do depoimento do ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, ao Ministério Público Federal (MPF) apontam que houve cobrança de propina em três projetos de Rio Grande. A obra de US$ 3,7 bilhões – referente aos oito casos do pré-sal teve quase US$ 34 milhões em propina, segundo o delator.

No projeto de três navios sonda de perfuração, orçado em R$ 2 bilhões, R$  60 minhões  teriam sido  desviados. No projeto de US$ 523 milhões da P-53 – a primeira plataforma de petróleo construída no Rio Grande do Sul – cerca de US$ 5 milhões foram desviados, de acordo com Barusco. O total de desvios apontados chega a R$ 168,5 milhões.

Rádio Gaúcha*

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