Crédito para famílias fica praticamente estagnado
Jousi Quevedo

Os spreads bancários seguiram a mesma linha dos juros médios, com aumento do custo para as famílias (de 27,7 pontos percentuais em agosto para 27,9 pontos em setembro) e redução para as empresas, que conseguiram no mês passado contratar com spread médio 0,4 ponto percentual menor do que em agosto.

O estoque de crédito livre para as famílias ficou praticamente estagnado em setembro, mês em que a taxa de juros média para esse segmento subiu de 35,6% para 35,8% ao ano, após seis meses consecutivos de queda. O relatório divulgado na última sexta-feira pelo Banco Central (BC) informa que o saldo desses empréstimos e financiamentos fechou o mês em R$ 703,221 bilhões, variação de apenas 0,03% sobre agosto.

Enfraquecido pela greve dos bancários, o fluxo de crédito novo com recursos de livre aplicação pelos bancos foi, para pessoas físicas, 14,1% menor, fato que contribuiu para a estabilidade do estoque. A isso se somou o efeito da liquidação do banco Cruzeiro do Sul, que tirou das estatísticas de crédito do sistema financeiro mais de R$ 2 bilhões.

Os dados prévios de outubro mostram que média diária geral das concessões de crédito tem alta de 0,6% nos 12 primeiros dias úteis na comparação com o mesmo período do mês anterior, mas as concessões a famílias por esse critério recuam 0,5%. A alta, asssim, vem sendo puxada pelas concessões a empresas, que subiram 1,5%.

O chefe do departamento econômico do BC, Tulio Maciel, destacou que, independentemente da greve, setembro foi um mês com menor número de dias úteis, o que interfere no volume de concessões acumuladas. Na média diária, o fluxo de crédito novo às famílias com recursos livres, que tinha caído 1,2% em agosto, até voltou a subir e foi 4% maior.

Com a dificuldade de acesso aos estabelecimentos bancários, a média foi puxada por modalidades como o cheque especial (+9%) e o cartão de crédito (+11,6%), que não dependem da ida às agências para liberação do dinheiro. Já a média diária concedida nas linhas de crédito pessoal caiu 4,3%.

O fluxo de crédito novo para veículos caiu ainda mais, 18,6%, ainda pelo critério da média diária. Nesse caso, porém, o motivo não foi a greve já que, normalmente, esse é um crédito tomado nas concessionárias de automóveis. A redução está associada à antecipação de compras ocorrida em agosto diante da expectativa de retomada do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ainda no fim daquele mês, o que não se confirmou (o IPI mais baixo foi prorrogado até dezembro).

Menos dependente do funcionamento normal das agências, o estoque com recursos livres cresceu mais para as empresas em setembro. Na média diária, o fluxo de crédito novo para as pessoas jurídicas aumentou 11%, após uma queda sazonal de 1,4% em agosto.

O crédito livre como um todo cresceu menos do que o direcionado. O aumento do estoque foi de apenas 0,8%, metade da taxa de expansão registrada pelas operações com recursos de aplicações obrigatórias (1,6%). O saldo total dos empréstimos e financiamentos do sistema financeiro aumentou 1,1%, fechando setembro em R$ 2,237 trilhões.

O ritmo foi ligeiramente inferior ao de agosto (1,2%), mas superior ao de julho (0,7%) e suficiente para que o estoque total de crédito seguisse avançando como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), para 51,5%. Na avaliação do BC, o crédito vem mostrando evolução compatível com a expansão projetada para o ano, que é de 16%.

O dinamismo do crédito direcionado tem relação com o desempenho dos financiamentos habitacionais, quase totalmente oriundos de recursos de aplicação obrigatória. O saldo das operações de crédito direcionado para compra de imóveis habitacionais subiu 2,5% no mês, 27,4% nos últimos nove meses e 37,8% em 12 meses. Essas são taxas de expansão muito acima do estoque total de crédito, que cresceu 1,1% no mês, 10,2% em nove meses e 15,8% em 12 meses.

O maior vigor das operações com recursos direcionados tem sido a tendência nos últimos anos também por causa da política do governo de usar bancos estatais para fomentar o crédito. Em geral, os bancos públicos são os que mais trabalham com recursos direcionados. Em setembro, enquanto a carteira dos bancos privados nacionais expandiu-se apenas 0,2%, a dos bancos públicos aumentou 2%. No acumulado de 12 meses, a diferença também foi grande, pois, enquanto os privados nacionais cresceram 7%, o sistema financeiro público exibiu uma expansão de 25,8%.

A carteira dos bancos privados de controle estrangeiro teve um desempenho um pouco melhor do que o dos nacionais, embora ainda longe da dos bancos estatais (0,9% em setembro e 12% em 12 meses).

Esses dados mostram que a pressão do governo sobre as instituições privadas para ampliar mais o crédito não tem surtido efeito. Receosos por causa da alta inadimplência, os bancos privados seguiram o exemplo dos públicos apenas no que diz respeito ao corte de taxas de juros e tarifas.

A inadimplência tem se mostrado resiliente medida tanto em relação ao estoque total de crédito quanto em relação ao crédito referencial, que corresponde a quase a totalidade do crédito livre. Pelo primeiro desses dois critérios, a participação das operações com pagamentos em atraso há mais de 90 dias está estacionada em 3,8% há seis meses. A inadimplência do crédito referencial, por sua vez, mantém-se em 5,9% há três meses consecutivos.

Apurada pelo BC apenas em relação ao crédito referencial, a inadimplência das famílias é mais alta que a das empresas e, pelo terceiro mês seguido, ficou em 7,9%. A das pessoas jurídicas caiu ligeiramente de 4,1% para 4%. Nos financiamentos de veículos a pessoas físicas, especificamente, as operações com parcela em atrasos há mais de 90 dias subiu 0,1 ponto percentual, para 6%.

A greve dos bancários também foi a responsável pelo aumento de 0,2 ponto percentual na taxa média de juros das operações de crédito referencial em setembro direcionadas às famílias. Especificamente nas operações direcionadas às empresas, o custo caiu 0,5 ponto percentual no mês passado, para 22,6%.

O juro médio geral, por sua vez, caiu 0,2 ponto percentual, para 29,9% ao ano, atingindo mais uma vez o menor nível da série histórica do BC, com início em 2000. Foi o sétimo mês consecutivo de queda nas tarifas médias. No acumulado do ano, a taxa média de juros caiu 7,2 pontos percentuais.

Os spreads bancários seguiram a mesma linha dos juros médios, com aumento do custo para as famílias (de 27,7 pontos percentuais em agosto para 27,9 pontos em setembro) e redução para as empresas, que conseguiram no mês passado contratar com spread médio 0,4 ponto percentual menor do que em agosto.

No geral, a diferença entre as taxas de captação dos bancos e as aplicadas aos clientes recuou e também atingiu o menor nível histórico em setembro (22,3 pontos percentuais).

Fonte: O Valor

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