Seminário da Fetracos - Economista trata da crise mundial e da economia brasileira enfocando realidade do trabalhador
Jousi Quevedo

A lógica dos títulos podres americanos foi explicada, assim como as defesas da economia brasileira contra a crise.

Mário de Lima, assessor econômico da Força Sindical-RS, apresentou o segundo painel do Seminário de Formação Política e Econômica da Fetracos sobre "A Crise Econômica Mundial e sua relação com o Brasil". Conforme o painelista, as ideologias políticas sempre buscarão modelos econômicos que satisfaçam seus interesses.

"A ideologia dominante utiliza os modelos e regra que a beneficia", disse Mário, que explicou conceitos como commoditties, as necessidades que movem a economia, os recursos limitados e os movimentos do mercado externo.

No modelo estrutural econômico, diz Mário, se desenrola a história, a arte, a sociedade, em suma, o que compõe os ciclos econômicos.

"Em 1890, em 1920, em 1970 (petróleo), e em 2008 (crise imobiliária) e 2011 (sistema financeiro) ocorreram as maiores crises que nos afetam", afirmou o economista, mostrando um gráfico do capitalismo no tempo. "A cada crise que surge, ela tende a ser pior, porque os empresários enxergam a economia como um modelo matemático, faltando a compreensão da saúde pública, da alimentação, do vestuário, porque o sistema da regra econômica é esse, que não vai mudar, mas que deve ser substituído", explicou.

O Plano Real levou a moeda brasileira à paridade com o dólar americano, à desindexação da economia, à privatizações e ao equilíbrio fiscal.

No mercado de commoditties, o Brasiil é afetado pela crise mundial atual porque os principais compradores são Estados Unidos e União Européia. Por isso, o principal cliente do país se tornou somente a China. Assim, a proteção do mercado interno foi a saída para suprir a ausência dos clientes americanos e europeus.

A partir deste raciocínio, Mário explicou e justificou as políticas de diminuição da taxa de juros; o controle cambial; e a instigação da ciência, pesquisa, tecnologia e inovação (que atrai empresariado) implementadas pela presidente Dilma Rousseff.

"Na questão da inovação, entra o trabalhador e a necessidade de qualificação profissional. Portanto, minha sugestão é que haja uma política de desenvolvimento como liberdade, com a ação de políticas públicas e desenvolvimento regional", sugeriu.

"Temos que ganhar poder econômico na discussão de políticas públicas e não perder espaço para o lobby bancário e meramente financeiro", complementou.

O trabalhador tem de trabalhar no desenvolvimento regional gestado pelo governo porque este não visa apenas o lucro. "É neste sentido que o movimento sindical tem de atuar", finalizou.

Debate com o público

A palestra de Mário de Lima promoveu muitos questionamentos na plateia por se tratar de um tema atual e de interesse direto dos dirigentes para ser trabalhado em suas bases.

O diretor da Força Sindical-RS, Cláudio Côrrea, manifestou seu anseio com a situação dos trabalhadores menos favorecidos atingidos pela crise econômica. Segundo ele, a única categoria que está confortável com a situação atual é a do setor da construção civil pelo boom de programas como o Minha Casa Minha Vida, mas ele lembrou o problema da inflação imobiliária, citando os EUA.

"A classe menos favorecida está sendo atingida pela crise sim. A classe média, pelo consumo e o poder de compra, até está mais movimentada, mas o governo não implantou medidas efetivas de proteção a maior parcela da população", disse.

Mário respondeu que no caso dos Estados Unidos, com a crise imobiliária, houve um 'roubo' porque era vendido um crédito inexistente, através dos chamados títulos podres.

"No Brasil, existe controle de criação do dinheiro e toda a construção civil brasileira é segurada pelo Tesouro, ou seja, pelo que o governo arrecada. Então não temos esse problema, mas temos que criar uma taxa que impeça que determinada porcentagem de lucros seja emitida fora do Brasil. Ressalvo que tendo sob pena a possibilidade de investimentos externos no Brasil não surgirem", explicou.

A crise americana de 2011 é pior que a de 2008, porque antes a crise era dos bancos, em última instância das pessoas, e agora atingiu o estado americano por ter pago a dívida dos bancos.

João Pereira, do Conselho do Sindec-POA, questionou como resolver a entrada excessiva de produtos chineses. "No Brasil está havendo sanções para entrada destes produtos, mas está havendo a triangulação desses países, que enviam partes separadas dos produtos, montando em países vizinhos o produto, como Argentina e Uruguai", disse Mário.

O painelista afirma que no Brasil as leis trabalhistas protegem democraticamente as condições do trabalho e elogiou a atuação do governo brasileiro em relação aos produtos importados da China e o aumento do IPI (imposto sobre importados).

"O Brasil Maior, programa do governo, defende justamente a indústria têxtil e de calçados para combater a entrada de produtos chineses", comentou Mário.

O tesoureiro do Sindec, Luís Carlos Barbosa, disse que o que deu consistência ao sistema econômico brasileiro foi o Proer, questionando sobre a opinião do economista.

O economista disse que o Proer fez uma remodelação do sistema financeiro no país, representando inclusive a lucratividade atual do Banrisul, que recebeu dinheiro do governo federal. "O Real só funcionou por isso, mas o Proer é o principal motivo da dívida pública gaúcha, feita pelo índice IGPI, que é o pior índice que existe".

A atuação das centrais, sugere Mário, deve ser no sentido de não pagar esta dívida.

Sobre as exportações de comoditties, estas dão sequência à lógica colonial do país. A saída é desenvolver a pesquisa e a tecnologia entre os jovens. "Não podemos só importar tecnologia, temos que fazer a nossa", frisou Mário.

Texto: Josemari Quevedo

Fotografias: Cíntia Rodrigues

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