Seminário da Fetracos - Aumento da produtividade no RS e Brasil deve implicar no aumento dos salários dos trabalhadores
Jousi Quevedo

Índices apresentados por economista do Dieese apontam que o Brasil se tornará um país de primeiro mundo se transferir crescimento da economia para aumento real do salário mínimo.

Conjuntura e Negociações Coletivas foi o tema abordado, no segundo dia do Seminário de Formação Política e Econômica do Fetracos, por Daniela Barea Sandi, economista técnica do Dieese. Compuseram a mesa de abertura Zé Luís, presidente do Sindec/Pelotas; Sílvia Dutra, do Sindec de São Jerônimo; Antenor Fedrizzi, diretor de Formação da Fetracos e diretor do Sindec/Canoas; e Vandersson Dias, do Sindicato dos Comerciário de Encantado.

"A crise de 2011 é o desdobramento da de 2008 nos Estados Unidos, com a quebra do principal banco americano. No Brasil, a crise teve efeitos menores em função do mercado interno robusto. Neste ano, a crise está mais concentrada na Europa", informou Daniela. A economista acredita que o desenvolvimento no país deve desacelerar nos próximos meses. "Temos uma diminuição no preço dos commodities, com reflexos na balança comercial brasileira e na inflação", explicou.

Dentre as medidas do governo federal contra a crise, a economista destacou o IOF para evitar o derretimento do dólar e apreciação do real. "Além do Programa Brasil Maior, que é uma política de desoneração da produção, que prevê incentivos aos investimentos e desenvolvimento tecnológico. A medida de juros comercial, com redução da taxa de juros", afirmou.

O grande trunfo brasileiro no enfrentamento da crise tem sido o mercado interno novamente, disse Daniela. Embora o Brasil esteja com a relação dívida pública/PIB esteja controlada, os gastos com juros são elevados, ultprassando 5% do PIB. "63% do consumo do PIB indica que é puxado pelo consumo das famílias. A maior participação é dos tabalhadores", destacou.

O Brasil cresceu 7,5% e o RS teve um crescimento em 7,8% em  Já em 2011, até agora o Brasil cresceu 3,5% e o RS 3,6%, podendo chegar até o final do ano com essa média. "E muito deste crescimento se deu em produtividade, portanto, o trabalhador deve se apropriar deste crescimento", disse.

A economista informou ainda que a economia gaúcha segue aquecida nas compras industriais e emprego industrial, além do aumento do recorde na produção de grãos. "O desemprego atingiu ainda patamares muito baixos no Estado, sendo 7,7% na região metropolitana de Porto Alegre", pontuou.

Robustez do emprego

****O Brasil teve uma evolução do emprego bastante positiva, com a perspectiva de fechar 2011 com 163 mil novos postos, sendo mais de 2 milhões no Brasil, quase alcançado a estimativa que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) tinha estipulado.

No comércio gaúcho, em geral o crescimento foi de 8,4%, com aquecimento da arrecadação de ICMS, totalizando uma variação de 18,61% positiva em 2010.

Negociações salariais

O INPC do 1ª semestre de 2010 foi de 4,89% enquanto este ano, no 1ª semestre, foi de 6,40%, puxada pela alta dos alimentos. "Os dados demonstram que o salário está crescendo abaixo da produtividade, e isso repete um ciclo de anos anterires. A produtividade cresceu 27% enquanto o salário só 20%. Há uma margem de 7% aí que descontitui os discursos de que não há espaço para aument do salário", apontou a economista.

A produtividade é um fator agora de melhoria da distribuição de renda e da melhoria dos salários. O Brasil, por outro lado, tem o custo horário dos saláriios mais baixos do mundo, ao custo de 6,8 dólares a hoora. "Se queremos transformar o Brasil num país desenvolvido, temos que aumentar a renda nacional na renda do trabalhador. Todos os países desenvolvidos e de primeiro mundo fizeram isso. Essa transformação aumenta no aumento do salário a partir da produtividade", complementou.

A estimativa é que em 2012 o salário mínimo chegue a R$ 619,21, 2013 a perspectiva é R$ 676,35, e 2014 chega a R$ 747,66.

Debate com o público

Ramires perguntou em que nível a taxa Selic atinge a economia e os trabalhadores. Conforme Daniela, a taxa de juros é é um fator que em função da sua redução freia a entrada de dólares no Brasil. "A medida que ela baixa, aumentam os investimentos, aliviar a dívida pública, e por consequência aumenta a renda", disse.

Leandro, das bases de Gravataí, observa que empresas estão trabalhando com quadro de funcionários muito reduzidos. Ele disse que o banco de horas continua funcionando de uma forma geral.  A questão dele é como equilibrar esse problema com a alta produtividade. Para Daniela, a produtividade teve um grande aumento graças à alta rotatividade de funcionários. "Este é um elemento importante: como coibir a rotatividade. Esse instrumento é utilizado pelo empresário para rebaixar custos", disse. Ela lembrou também a importância da política de Trabalho Decente.

Dionísio Mazui, vice-presidente da Fetracos, questionou qual a influência real do custo da folha de pagamento nas negociações com o patronato. Daniela destacou que a folha de pagamento é uma parte do custo total do empresário e isso influe na hora de negociar. Ela indica o trabalhador se munir dos dados para ir para a mesa de negociação. "O custo da folha é baixíssimo, justamente por que a hora trabalho é baixa", disse.

O diretor da Força Sindical e do Sindec-POA Cláudio Côrrea, questionou como o Dieese percebe a saída das empresas de calçado em massa do RS. Para Daniela, a indústria de calçados deve ser favorecida pela política de juros se continuar caindo. Sobre os empregos, a mão de obra foi alocada em outros países, disse a economista.

Carmem Pinto, assessora jurídica da Fetracos, falou da necessidade dos dirigentes se formarem e se atualizarem sobre política e econômica para negociar em acordos e convenções. Ela ressaltou a importância de técnicos do Dieese estarem presentes nestes momentos para assessorar tecnicamente nas reuniões. "Se formos para negociação e não obtivermos êxito, vamos ter como fundamental a prova do que queremos. Em julgamento os técnicos fazem a diferença", disse.

Zé Luis, de Pelotas, questionou por que os salários de piso regional não são medidos por outros índices maiores.

Texto: Josemari QuevedoFotografias: Cíntia Rodrigues

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