Modelos e formas para aprimorar o ensino e a educação dão o tom dos debates na tarde
Jousi Quevedo

O Brasil destina apenas 5% do PIB para educação. Agenda do movimento sindical defende 10% PIB.

Na abertura das discussões, o presidente Clàudio Janta saudou o colaborador Paulinho que mesmo trabalhando conseguiu cursar ensino técnico. A deputada Juliana Brizola mencionou o ideal das escolas integrais pensado e implementado pelo seu avó, Leonel Brizola, com os CIEPs.

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Juliana trouxe para a tarde de debates um vídeo sobre o projeto dos CIEPs e o que representou ao Rio de Janeiro, onde foi implementado inicialmente. No RS, o então governador Alceu Collares também implementou um modelo similar. Ela defende o investimento de governos prioritariamente em educação. Ela disse que apesar da bandeira da educação ser de Leonel Brizola, alguns políticos do PDT não implantam os CIEPs. Por isso, a educação e os CIEPs independem de banderias partidárias. "Sabemos que as desculpas são sempre a falta de dinheiro, mas acreditamos que é uma questão de prioridades", disse. A PEC 215/2011 foi apresentada pela deputada na ALRS para que progressivamente o Estado ofereça o ensino de turno integral. O projeto também busca resgatar a qualidade do processo educacional no RS. Hoje, estatísticas apontam que os alunos passam apenas 3,2 horas por dia na escola, quando o recomendado são 4 horas, seja ensino fundamental ou médio.

"Os CIEPs vem colaborar com tal necessidade dos gaúchos, pois estamos atrás de estados como Maranhão e Pernambuco. Então a PEC vem fundamentada nestas questões", explicou Juliana.

O Executivo decide quais políticas de educação serão tomadas, porém, os deputados pressionam por mudanças e ações, mas só o fazem se pressionados, apontou a neta de Brizola. "As mudanças na educação só serão feitas pelo conjunto da sociedade. Sabemos que a realidade educacional está muito abaixo do que precisamos, a população tem que se mobilizar e cobrar, especialmente nas manifestações públicas. Infelizmente o poder político trabalha muito sob a pressão da sociedade", destacou.

Para a deputada, os R$75 milhões destinados à educação pelo Plano Plurinual do RS não são suficiente. "É pouco", disse, afirmando que se o descaso deve em parte à sociedade que cobra muito pouco pela educação pública de qualidade. "Em casa todos se rebelam, reclamam, mas falta ação concreta e manifestação", sugeriu.

A ex-secretária estadual de Educação Mariza Abreu começou sua abordagem da educação pelo viés do desenvolvimento. Mariza foi a gestora estadual do ensino no governo de Yeda Crusius. Segundo a professora, a educação de qualidade para todos garante crescimento de produtividade e inserção do país no mundo global, além, é claro, da qualidade de vida. Aprender é um direito de todas as pessoas previsto na Constituição Federal.

Mariza apresentou cinco metas do programa Todos pela Educação trabalhados e perseguidos quando estava na gestão estadual: currículo, magistério, professor valorizado, extensão da jornada de trabalho (mais tempo de aprendizagem) e uso dos resultados da avaliação para melhoria das condições de educação.

"As bandeiras não são a escola integral, mas, sim, nos levam ao caminho do turno integral", afirmou. Como o MEC não faz avaliação da alfabetização das crianças, disse a palestrante, o programa Todos pela Educação tomou a iniciativa de fazer. A secretária mostrou índices muito baixos de alunos capacitados em matemática e português depois de terminarem os estudos escolares.

Mariza demonstrou que a cada governo as despesas com MDE e com educação em relação ao PIB vem diminuindo progressivamente. Na questão previdenciária, explicou que os brigadianos e o magistério são as duas categorias que mais gastam, justamente pela diferenciação previdencária que têm.  Assim, a educação e a segurança pública devem ser setores prioritários de investimentos, já que os inativos estão no mesmo filão dos ativos e da infra estrutura da área. "É necessário mais dinheiro? Com certeza. Mas só dinheiro não adianta. É necessário gestão", disse.

Elacomentou constante disputa nos serviços públicos no Brasil entre o corporativismo e a cidadania.

Educação e tecnologia

A ex-secretária fez um resgate histórico sobre a educação escolar nos tempos, passando peloo início do século XX, revolução industrial, até a o século XXI, com a incorporação da tecnologia em todos os espaços da vida social.

Um dos pilares desta nova educação impinge ao aluno e professor "aprender a aprender", com a escola não sendo mais a detentora da informação. "A escola tem que ajudar a pensar, a ter autonomia de conhecimento diante da informação que está solta no mundo, aprender a selecionar, aprender a entender a informação", disse Mariza. Em resumo, a escola tem que preparar o estudante para o uso das novas tecnologias na dimensão pessoal, profissional e cidadã.

Diante da nova relação com o trabalho, ela apontou a mudança de currículo, especialmente do ensino médio, como fundamental. Assim, há cinco competências básicas da inteligência humana que deverão ser contempladas: dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentações e elaborar propostas.

"O problema é como se preparam os professores para ensinar os processos tecnológicos e como transformar essas questões e problemas em demandas sociais", disse.

"Desatar o nó carreira X salário do magistério necessariamente é o desafio para podermos pensar os novos desafios", frisou. Novas mídias devem promover aprendizado diferenciado e treinamento é fundamental, finalizou Mariza Abreu.

Já Janise Alvares Collares relatou como tem sido a inclusão digital das escolas de Bagé, um município do interior do Estado bastante arraigado, através do programa Proinfo que promove o uso das tecnologias na escola. Na fase piloto, foram adquiridos 445 laptops e depois, com recursos próprios, este número aumentou consideravelmente.

Como os alunos são nativos digitais, Janise destacou a necessidade da formação dos professores através de programas. Entre 2009, 128 participantes fizeram o curso de educação digital (40h) e 30 participantes cursaram o Ensinando e Aprendendo com TICs entre 2010 e 2011. O Projeto UCA, do governo federal, é semi-presencial e ocupa os 26 professores da escola modelo de Bagé.

"Valorizamos as TICs em nossas escolas porque favorecem os alunos, a comunicação entre as escolas, o contato com as famílias e auxiliam na prestação de contas para a comunidade", apontou. A democratização do acesso das informações também é citada como grande benefício da inclusão digital das escolas de Bagé. "Democratiza a possibilidade das pessoas estarem em lugares que antes não poderiam estar", disse.

Os alunos PNEs também foram beneficiados sobremaneira neste processo, contou a professora.

Público debate com os painelistas

Os debates foram abertos ao público presente no final das explanações. O primeiro a comentar foi Beto, do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Vestuário e Calçado de Cachoeira do Sul, que disse que todos deveriam ter seus filhos na escola pública para que o conjunto da sociedade pressionasse pela qualidade. Na opinião do sindicalista, o professor ganha pouco pelo trabalho puxado nos finais de semana e por concentrar em sua grande parte mulheres. O diretor da Força Sindical, Cláudio Côrrea, falou dos casos em que os alunos copiam os trabalhos da internet.

Já o presidente Clàudio Janta disse que é urgente "zerar a questão dos problemas na educação" para que a cada governo não haja mudanças que prejudiquem a continuidade do trabalho ou se recomece todo um processo novo de gestão da educação. "Queremos políticas de estado e temos que enfrentar os problemas, porque muitas vezes não enfrentamos", disse. Janta citou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que só prevê direitos das crianças, mas não prevê deveres. "Estudar é um dever da criança e deveria ser cobrada, assim como trabalhar é vedado para os menores de idade em vários ofícios. Já ser ator, ser jogador de futebol pode. Isso é hipocrisia", desabafou Janta, afirmando que antes, aos 14 anos, as crianças aprendiam a operar maquinários, trabalhar em oficinas e buscar uma formação profissionalizante junto da família. A discussão do Estatuto da Criança e do Adolescente deve ser revista pela sociedade, defendeu Janta.

Mário de Lima, assessor econômico da Força, questionou como solucionar o problema do analfabetismo funcional.

Outro Participante questionou o que pode ser feito na resolução destes problemas coletivos quando a sociedade não aparece mais disposta a dar o norte das questões sociais, visto que há um desencanto com os políticos. O secretário de Juventude da Força Sindical, Jefferson Tiego, questionou como resolver a desqualificação do ensino e por que os cursos técnicos foram deixados de lado e só se investe em ensino superior.

Pedro, que representa entidades estudantis, disse que os movimentos dos estudantes acompanham os debates e reafirmou que as novas tecnologias auxiliam o aprendizado. Ele cobrou o aumento do PIB para aplicar na educação.

Mariza, por outro lado, disse que esperar o aumento do percentual do PIB para 10% é "sonho de uma noite de verão" e criticou a falta de continuidade das políticas públicas de educação. A ex-secretária enumerou projetos do governo FHC que tiveram continuidade no governo Lula com nomes diferentes e reformulados. "Há uma perda de tempo geral e não tem uma solução mágica", disse. "Os CIEPs não se sustentaram porque não 'colou', entendem? Mas nós temos que caminhar para esse lado".

A ex-secretária, no entanto, afirmou que é necessário mais do que nunca no RS o governo ter políticas que coloquem os professores como aliados. "Os professores não ganham tão mal quanto eles se conveceram que ganham. Os professores não ganham o que merecem, isso é verdade, porque são desassistidos desde a formação. O magistério é muito legal em 80% de sua categoria, mas há 20% do movimento sindical radicalizado que só sabe usar três palavras: neoliberal, sucateamento e desmonte", disse, explicando as faixas salariais dos professores e a dificuldade de negociar com o CPERS durante seu mandato.

Janise respondeu que as crianças de períodos anteriores faziam o mesmo corta e cola do computador, só que a cópia era direto do livro. "A única mudança tanto ontem quanto hoje nesta situação continua sendo a intervenção do professor e a sua atuação em sala", disse Janise. Ela falou que muitas pessoas ainda tem um certo receio em utilizar as tecnologias e estimulou a todos que usem a informática. Por outro lado, afirmou que os professores ganham muito pouco. "Trabalham nos finais de semana, oito horas por dia atendendo 35 crianças/alunos com diferentes  necessidades", argumentou. "Um salário para professores de R$ 1.700 é uma vergonha. A qualidade de educação passa por isso também e não podemos ter preconceito achando que o professor é um profissional menor", disse.

A mediação do debate foi realizada pelo presidente do Sindicato dos Zeladores, Edson Feijó.

Texto: Josemari Quevedo

Fotografia: Daiana Rodrigues

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