Faz parte do trabalho
Jousi Quevedo

Com a automação, pessoas realizam mais tarefas.

Muitos aeroportos hoje possuem quiosques de check-in automatizado que permitem que os viajantes se tornem "funcionários nas sombras", desempenhando uma tarefa antes realizada por funcionários de uma companhias aéreas, sem receber por isso.

Muitos aeroportos hoje possuem quiosques de check-in automatizado que permitem que os viajantes desempenhem uma tarefa antes realizada por funcionários sem receber.

O alto índice de desemprego parece ser difícil de solucionar, mas é fácil enxergar o que aconteceu. Muitos empregos migraram para a China e outros países asiáticos onde se pagam salários baixos.

Mas os empregos começaram a desaparecer muito antes de linhas de montagem da Foxconn em Shenzhen começaram a produzir iPhones ou de televisores de tela plana começarem a ser montados em fábricas da Coreia. Na realidade, muitas tarefas que no passado eram desempenhadas por secretárias, caixas, agentes e balconistas diversos hoje são realizadas por pessoas que já têm outros empregos.

Este chamado "trabalho nas sombras", termo cunhado pelo filósofo austríaco Ivan Illich em 1981, leva em conta todo o trabalho não pago que acontece em uma sociedade baseada em salários, escreveu Craig Lambert recentemente no "New York Times". A tecnologia que nos permite pagar contas de cartão de crédito online ou scanear nossas próprias compras em supermercados também nos converte em empregados, eliminando empregos e elevando o índice de desemprego.

"Hoje", escreveu Lambert, "os aeroportos têm guichês de check-in automatizado que permitem que os passageiros façam o trabalho dos funcionários das companhias aéreas. Antes, agências de viagens pesquisavam e comparavam passagens, diárias de hotéis e pacotes. "

O avanço da tecnologia se acelera, segundo Erik Brynjolfsson e Andrew P. McAfee, pesquisadores do Centro de Negócios Digitais do Instituto Massachusetts de Tecnologia e autores de "The Race Against the Machine" (A corrida contra a máquina).

"Computadores mais velozes e baratos e softwares inteligentes estão conferindo às máquinas capacidades que antes se pensava que fossem exclusivamente humanas", informou o NYT. "Assim, a automação está avançando para além das fábricas, atingindo empregos em call centers, partes do setor de serviços, maior criador de empregos na economia."

Hoje em dia, a demanda é grande por profissionais como "gerentes de otimização de rendimento" e "diretores de marketing de plataforma". Esses cargos requerem habilidades quantitativas, matemáticas e técnicas de alto nível para analisar dados da web para agências de publicidade.

"O número de coisas que você precisa saber é grande e o número de pessoas que cresceram sabendo essas coisas é pequeno", disse Joe Zawadski, executivo-chefe da MediaMath, companhia de tecnologia de anúncios.

Zawadski disse que são necessários dois a três meses para encontrar a pessoa certa para muitas vagas e que há grande demanda de profissionais que saibam escrever código, criar anúncios digitais, desenvolver web sites e analisar estatísticas. Seus salários anuais podem chegar a US$100 mil.

Mas mesmo os profissionais da tecnologia fazem muito trabalho nas sombras: redigir e-mails, reservar passagens, fazer cópias, buscar café. E todo esse trabalho adicional cansa os profissionais. Estudo de 2007, diz que 38% dos americanos estavam fatigados.

"Várias tarefas simples antigamente eram distribuídas entre nós, e prestar esses serviços pequenos para outra pessoa era até mesmo um aspecto da civilidade", escreveu Lambert. "Esses dias acabaram. Agora são os robôs que estão no comando, empurrando mil tarefas rotineiras sobre cada um de nós."

Fonte: The New York Times (Folha de São Paulo)

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