Em dois anos, índice de HIV cai 10,1% no Rio Grande do Sul
O dia 1 de dezembro é marcado como Dia Internacional de Luta contra a Aids. Em alusão à data, o Estado divulgou, pela primeira vez, um estudo próprio com dados e apontamentos sobre o cenário do vírus do HIV e da Aids no território gaúcho. As conclusões são preocupantes. O índice de detecção da doença no Estado é duas vezes maior do que o número nacional. No Brasil, em 2014, a taxa de detecção era de 19,7 casos a cada 100 mil habitantes. Já no Rio Grande do Sul, o índice era de 38,3 casos por 100 mil pessoas. A prevalência do vírus no Estado é ainda muito alta, apesar de ter apresentado uma redução de 10,1% se comparado à 2012, quando era de 42,6 casos/100 mil. Entre as capitais, Porto Alegre se destaca com o índice mais alto, de 94,2.
O Estado lidera os rankings nacionais de contaminações pelo HIV há, pelo menos, 10 anos. Ainda assim, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) não consegue precisar um motivo para que as taxas sejam tão superiores se comparadas ao resto do País. De acordo com o diretor do Departamento de Ações em Saúde da SES, Elson Farias, a notificação e investigação de casos no Estado é bastante eficiente. "Pode ser uma das causas (dos altos números), pois temos um sistema de investigação bem elaborado", refletiu.
Ainda assim, fatores comportamentais, dificuldade de acesso ao diagnóstico precoce, falta de tratamento oportuno e liberação de insumos de prevenção também podem contribuir para o aumento dos casos. Em janeiro do ano que vem, a SES lançará uma Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas (PCAP) para avaliar a situação do Estado. A PCAP nacional, já realizada, avaliou a Região Sul como um todo, deixando de lado particularidades estaduais.
Entre gestantes, os resultados também são preocupantes. Entre 2000 e junho de 2015, o Brasil notificou 86.732 casos de gestantes infectadas com o HIV. Na Região Sul, foram 26.895, equivalente a 31% dos casos, e no Rio Grande do Sul, foram 16.011 – 18,4%.
Conforme uma das responsáveis pela elaboração do boletim epidemiológico de HIV/Aids e sífilis no Estado, Maria Letícia Ikeda, a testagem de 100% das gestantes durante o trabalho de parto é obrigatória. "Existem medicamentos que devem ser administrados durante o trabalho de parto para evitar a contaminação do bebê. Por isso, os cuidados não se encerram durante o pré-natal. Depois do parto, ainda procuramos acompanhar as crianças até os cinco anos de idade", comentou.
De acordo com o boletim, a taxa de infecção entre usuários de drogas injetáveis diminuiu nos últimos dez anos. Em 2004, 19,2% das contaminações se deram por esse motivo, contra 4,5% em 2014. Para o secretário estadual da Saúde, João Gabbardo dos Reis, embora seja um dado positivo, o motivo pelo qual se deu a redução não deve ser comemorado. "A incidência de usuários de crack aumentou muito no Rio Grande do Sul.
O risco de exposição ao HIV diminuiu, mas estamos longe de poder comemorar", lamentou. O principal modo de transmissão da doença ainda é a via sexual, seguindo tendência nacional. Entre os heterossexuais, o percentual de casos em relação ao total de contaminações, que era 6,5%, em 2004, passou para 12,8% em 2014.
As vítimas da doença ainda são muitas. De 2003 a 2014, foram registrados 141.182 óbitos relacionados à Aids no País. Somente no Rio Grande do Sul, foram 16.763 mortes. Ainda que seja um número elevado, verifica-se, por meio dos dados do boletim, uma leve tendência de redução. Em 2003, 11,9 a cada 100 mil habitantes faleceram por causa da Aids, contra 10,6 em 2014, uma redução de 11% em 11 anos. Para a SES, melhorias nos processos de detecção, diagnósticos precoces, implantação de testes rápidos, de ações educativas e de estímulo a medidas preventivas podem ter motivado a redução.
Fonte: Jornal do Comércio