Cresce fatia de salários usada para pagar dívida
Os consumidores estão utilizando uma parcela cada vez maior dos seus salários para pagamento de dívidas bancárias. Dados do Banco Central mostram que o valor total das prestações a serem pagas pelas famílias brasileiras em julho deste ano correspondia a 22,42% da sua renda. Isso significa que, na média, quase um quarto dos ganhos das pessoas é utilizado para pagar essas dívidas.
O porcentual, apurado pelo Banco Central desde 2005, representa novo recorde. Há sete anos, o brasileiro gastava mensalmente pouco mais de 15% do salário com essas despesas.
Houve, no entanto, uma mudança importante nos últimos meses. Ao separar o valor da prestação em pagamento de juros e do principal, o Banco Central verifica que o primeiro vem caindo, mesmo que lentamente, em relação à renda. Em março deste ano, 8,1% da renda foi usada para pagar juros aos bancos, um recorde. Em julho, o porcentual havia recuado para 7,9%.
Já a parcela do salário usada para reduzir o valor total devido, ou seja, para o pagamento do principal, continua crescendo. Passou de 14,2% para 14,5% da renda nesse mesmo período, patamar também inédito.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, diz que é natural que seja registrada elevação no endividamento das famílias. "Com o crédito crescendo mais do que a renda, que é o que estamos observando, claro que o endividamento vai crescer."
Maciel afirmou, no entanto, que a maior parte do aumento do endividamento está ligada ao crédito imobiliário. Ou seja, há uma troca do aluguel pela prestação da casa própria. "Isso é um benefício nítido em termos de bem-estar social", afirmou.
Outra consequência do endividamento é o aumento da inadimplência no crédito ao consumo, que ficou estável em 7,9% em agosto na comparação com julho, segundo o Banco Central, próxima do recorde alcançado em 2009 (8,5%).
Para a consultoria LCA, a inadimplência ainda elevada e a postura seletiva dos bancos no crédito são fatores que continuam impedindo um avanço mais expressivo do volume de empréstimos. A consultoria espera, no entanto, pequeno recuo desse nível de atrasos nos próximos meses, assim como o Banco Central.
Fonte: Jornal da Tarde