Aos 241 anos, Porto Alegre substitui indústria por serviços
Gabriella Oliveira

Segundo a SMIC, apenas 1,35% dos alvarás ativos na cidade são de atividades industriais.

Um olhar atento aos edifícios antigos e às obras em execução no 4º Distrito de Porto Alegre – que vai da estação rodoviária à Arena do Grêmio – é capaz de ilustrar um dos mais significativos movimentos econômicos vividos na Capital: a constante substituição da indústria pelo setor de comércio e serviços. Os exemplos nesses bairros de ligação entre o Centro e a zona Norte são muitos. Da cervejaria que deu lugar a um shopping center à antiga indústria têxtil que será transformada em um empreendimento imobiliário de característica mista, com torres residenciais e comerciais. Há, ainda, uma série de casarões, antigos prédios residenciais construídos para moradia de operários e galpões com preços já aumentados, compatíveis com a revitalização que essa metamorfose econômica da região promete.

Tamanhas valorização e expectativa dos proprietários talvez sejam a exacerbação de um movimento que o economista Vinícius Dias Fantinel, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), aponta como natural. O pesquisador, que é membro do grupo dedicado a estudar o Produto Interno Bruto (PIB) de Porto Alegre, lembra que esse êxodo das plantas industriais para municípios menores é comum a todas as grandes cidades e que, com o passar do tempo, essas capitais tendem não só a perder participação na geração de riquezas do Estado, como a ver a indústria perder peso na economia municipal.

Em Porto Alegre, que completa hoje 241 anos, segundo a Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic), apenas 1,35% dos alvarás ativos na cidade são de atividades industriais, enquanto 59,76% são de empresas prestadoras de serviços. O levantamento mais recente, feito em janeiro, mostra que há 1.434 alvarás industriais ativos, com destaque para a confecção de roupas (357 alvarás), para a impressão serigráfica (60 alvarás) e para a indústria metalúrgico-serralheira (56 alvarás).

O mesmo relatório divulgado pela prefeitura, ao citar dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), diz que existem na cidade 14.906 estabelecimentos envolvidos com 14 tipos de atividades industriais. Desses, apenas seis ramos tiveram aumento no número de empresas atuantes entre 2008 e 2011, com destaque para a construção civil (16,88%) e as indústrias da borracha, fumo, couros, peles e similares (13,96%). Já na indústria calçadista, o número de empresas atuantes em Porto Alegre caiu 26,83% no mesmo período, e a indústria têxtil perdeu 16,11% de suas empresas.

O economista da FEE observa, ainda, que esse processo tem reflexo em outros aspectos da economia da cidade. É o caso da qualidade do emprego oferecido em Porto Alegre. Os grandes acordos coletivos, com a conquista de diversos benefícios, já não são tão comuns, segundo ele, porque “a questão industrial perdeu força no Brasil”. Essa perda de influência, porém, não determina uma queda na geração de riquezas em si. O PIB de Porto Alegre saltou de R$ 16,5 bilhões, no ano 2000 (R$ 12.073,00 per capita), para R$ 43 bilhões em 2010 (R$ 30,5 mil per capita).

Esse fato leva o secretário-adjunto da Smic, José Peres, a ser enfático. “O foco do desenvolvimento econômico de Porto Alegre hoje está no setor de serviços.” De acordo com ele, interessam à cidade atividades como turismo, hotelaria, desenvolvimento de recursos humanos e informática, as chamadas indústrias sem chaminés. “Hoje, instalar uma indústria de informática em Porto Alegre é mais fácil do que instalar uma fábrica de móveis, que demanda o trânsito de caminhões pesados e isso é difícil de conciliar com o fluxo urbano”, exemplificou.

Segundo Peres, a principal ação de fomento à indústria em Porto Alegre está no Parque Industrial da Restinga, voltado para pequenas e médias empresas. Lá operam 34 empresas, que geram 550 empregos diretos. Há a previsão de instalação de outras duas indústrias no parque, com a geração de mais 100 postos de trabalho. Mas os problemas de infraestrutura da área ainda estão em processo de solução.

O secretário-adjunto afirma que apenas em novembro deste ano será inaugurada a subestação da CEEE na região. O empreendimento vai garantir a estabilidade no fornecimento de energia tanto para o parque quanto para o hospital que está sendo construído na Restinga. A iniciativa na área de saúde faz parte de uma parceria com o Hospital Moinhos de Vento. Já a via de acesso, que irá melhorar as condições de escoamento da produção da localidade, está recém em fase de estudos para licitação.

Fonte: Jornal do Comércio

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