O Brasil é um país-chave para a OIT
Jousi Quevedo

Nosso país tem servido de exemplo por possuir uma legislação trabalhista avançada.

Recém chegado de Genebra, na Suíça, da histórica 100 Conferência Internacional do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o comerciário Nilton Neco – secretário nacional de Relações Internacionais da Força Sindical – apresenta um relato animador para o Brasil no cenário do Mundo do Trabalho. Visto com seriedade em virtude da democracia interna e a unidade existente entre as centrais sindicais, nosso país tem servido de exemplo por possuir uma legislação trabalhista avançada e encarar o trabalho de forma humanitária.   

REPORTAGEM – Para o cidadão comum, qual o significado da 100ª Conferência Internacional da OIT?

NILTON NECO - A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é o único organismo tripartite em que os trabalhadores têm direito à voz e voto. Nem na ONU (Organização das Nações Unidas) ou na OMC (Organização Mundial do Comércio) e o G-20 (Grupo das 20 maiores economias do mundo) isso acontece. As normas regulamentadoras da OIT resultam do intenso debate entre os trabalhadores, empregadores e governos, como são exemplos a de número 87, sobre liberdade sindical; 158, sobre a despedida arbitrária; 151 – sobre o direito de organização dos servidores públicos. Mais recentemente, a questão do trabalho doméstico.

REPORTAGEM – A esse respeito – o trabalho doméstico – no Brasil há quem diga que essa convenção não tem validade, pois já existe legislação específica sobre o tema. Isso é verdade?

NILTON NECO – Não, já que aqui sabemos que o empregado  doméstico não conta com os mesmos direitos de um trabalhador comum. Evidentemente que o alcance no Brasil será maior que em países onde não existe qualquer legislação sobre o tema. O Brasil, inclusive, cumpriu um papel-chave no sentido de fazer com que essa convenção fosse aprovada, em razão de em nosso país a empregada doméstica ter a possibilidade de ter a carteira de trabalho assinada, férias e seguro social, mas ainda não têm direito ao Fundo de Garantia, como os demais. Aliás, o Brasil demonstrou que foi ampliando os direitos dos trabalhadores, que o país conseguiu vencer a crise que se abateu no mundo, em 2009. Valorizamos o salário mínimo e reconhecemos o direito das domésticas e não deixamos de crescer.

REPORTAGEM – O movimento sindical brasileiro é bem visto pelos olhos do mundo, devido a unidade de ação entre as centrais sindicais e a capacidade de influir nas decisões dos governos. Essa é uma das razões da sua eleição para o Conselho de Administração da OIT?

NILTON NECO – Não fosse a unidade existente entre as centrais sindicais esse fato não seria possível, já que o estatuto do organismo prevê a indicação de integrante da entidade mais representativa do país membro, o que – no caso brasileiro – seria a CUT a detentora da vaga. Mas a unidade fala mais alto e não se reflete internamente apenas, se refletindo externamente, na composição da Confederação Sindical das Américas (CSA) e Confederação Sindical Internacional (CSI), como na própria OIT. Há três centrais filiadas a essas organizações e é preciso haver rotatividade nos postos. A unidade – sim – é um fator preponderante.

REPORTAGEM – Como foi a participação do Brasil na 100ª CIT?

NILTON NECO – O Brasil é um país-chave na OIT. Tanto que temos uma embaixadora brasileira, a Sra. Maria Nazaré, mulher de fibra e aberta ao diálogo com todos os setores, inclusive os governos, o que destaca a atuação do país. Também por eleger e reeleger um trabalhador oriundo da classe pobre para a presidência da república, o que mostrou ao mundo a seriedade da nossa democracia, conforme destacou o presidente norteamericano, Barack Obama, quando esteve em visita ao Brasil. Hoje, uma ex-guerrilheira é eleita presidente, sem que houvesse golpes ou sobressaltos. O Brasil é muito respeitado lá fora pela democracia que pratica.

REPORTAGEM – Como foi a atuação da bancada brasileira em Genebra?

NILTON NECO – Em função de seus interesses, a bancada dos empresários preferiu se abster no momento da votação do tema do trabalho doméstico. Independentemente desse fato, a bancada brasileira atuou com desenvoltura. O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, afirmou que o Brasil deverá ser o primeiro país a ratificar a convenção sobre o trabalho doméstico. Já o embaixador norte-americano declarou a simpatia à convenção, mas avisou que o país não ratificar. Até hoje, os EUA só ratificaram a Convenção 87, sobre liberdade sindical.

REPORTAGEM – A Conferência Estadual do Trabalho Decente, marcada para outubro, em Porto Alegre, e a Nacional, para São Paulo, em maio, além do próprio Fórum Social Mundial, pregam a afirmação da tese do Trabalho Decente. Foi esse o centro da 100ª Conferência da OIT?

NILTON NECO – A atividade da OIT na atualidade gira em torno da tese do Trabalho Decente. Precisamos aproveitar esse momento de crescimento econômico e de geração de mais vagas para cobrar a criação empregos de qualidade. A grandeza da Conferência Estadual do Trabalho Decente – envolvendo o debate em regionais – tem tudo a ver com a posição da Força Sindical, que defendeu a organização de um grande evento, no qual se permita a intensidade da discussão, aproveitando a amplitude do evento.

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