Noite do samba na festa dos 77 anos do SINDEC
Régis Araújo

A presença do presidente Nilton Neco e família na primeira fila do Auditório Dante Barone, na Assembléia Legislativa do Estado, dava bem o tom do que estava reservado para a platéia, na noite em homenagem à passagem dos 77 anos do SINDEC, comemorado dia 10 de julho. Composto por comerciários, familiares e amigos, o público  recebeu de presente o consagrado espetáculo Estandarte do Samba, uma coletânea de ritmos que fazem parte do cancioneiro nacional e que ?são cantados por todos, sem saber de onde vem?, como descreveu a vocalista Glau Barros, ao falar no que chamou de missão do grupo.

E foi do casamento entre o desejo de Glau de cantar samba de raiz com a vontade da atriz Silvia Duarte de resgatar a história do samba que está a origem o espetáculo, animado pela presença do Grupo Flor de Ébano, liderado pelo conhecido Alemão Charles, que também assina a direção musical do show. Natural de Gravataí, a vocalista confirma a tese da universalidade do samba, ?cada vez mais vivo e único gênero musical brasileiro cantado do Oiapoque ao Chuí?, afirma Glau. 

O que se viu a partir da aparição da atriz e sindicalista Silvia Duarte - que recitou monólogo em apologia aos grandes mestres ? foi um desfile de pérolas da música popular, como o antológico ?Palpite Infeliz?, de Noel Rosa, numa das respostas ao duelo musical travado com o sambista Wilson Batista. No samba, de 1935, Noel, notório fã da Vila Isabel,  ironiza o rival dizendo que ?...a Vila não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também...? Dividido em dois blocos, o show cresce à medida que outros clássicos são interpretados pelos sambistas, como ?Tristeza Pé no Chão?, de Armando Fernandes (1972); ?Acreditar?, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho (1952);   ?Tive Sim?, de Cartola (1970) e ?Vem Devagar?, da gaúcha Zilah Machado, um dos resultados da pesquisa musical do grupo feita a partir dos autores do Rio Grande do Sul com o historiador Milton Campos. O estudo resgatou bandas como Café, Som e Leite; Fantástico Samba Show; Satirisamba; Sambasfalto até chegar no Sambautêntico Louca Sedução, Pura Cadência e Flor de Ébano, grupo com 16 anos de estrada e formado por Alemão Charles (cavaquinho), Silfarney (violão), João Marcelo (surdo e perfumaria), Clemer Junqueira (tantã) e Lucila Clemente (vocal), que acompanha Glau Barros no Estandarte do Samba. Segundo Alemão Charles, a intensão é mostrar que o Sul também tem raiz no samba, assim como o Rio de Janeiro. Ele traça um paralelo entre as figuras de Cartola, Noel Rosa e Candeia, no Rio, com Geraldo Fumo, em São Paulo, e Lupicínio Rodrigues e Túlio Piva, no Rio Grande do Sul. Outro aspecto da pesquisa foi reconhecer os compositores gaúchos como Isolino Nascimento e Zilah Machado. O diretor musical do espetáculo frisou a característica acústica dos arranjos, à base de  cavaquinho, violão, surdo, tantã, pandeiro e perfumarias, sem a presença de instrumentos eletrônicos. ?Daí o nome Estandarte do Samba? - explica o sambista.

À medida em que o espetáculo transcorria ficava mais difícil para a platéia conter a vontade de sambar, o que acabou ocorrendo nas últimas músicas, o que mereceu o comentário irônico de Glau Barros, que disse que as pessoas não poderiam ficar sentadas em um show de samba. Emocionado, o secretário geral do SINDEC, Clàudio Janta, revelou o prazer de proporcionar um espetáculo dessa grandeza à classe como presente de aniversário do sindicato. Ele lembrou do tema da campanha salarial 2008/09 ? a que  incluiu o conceito de Trabalho Decente como primeira cláusula, de forma inédita no planeta ? que anunciava ?...A Gente Não Quer Só Comida...?, aproveitando o refrão de música do grupo de rock Titãs. Janta, que também preside a Força Sindical no estado, destacou o papel desempenhado pelo SINDEC, que vai além da representação  classista, atuando em todos os segmentos da vida da categoria e no interesse da maioria da população. ?O Estandarte do Samba  é uma das marcas da presença do SINDEC na cultura popular?, afirmou o sindicalista.

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