Faça seu salário render!
Jousi Quevedo

O descontrole, muitas vezes, começa sem ao menos a pessoa perceber.

Independente do valor recebido ao fim do mês, as armadilhas do marketing e a pressão dos modismos costumam transformar o salário de muitos consumidores em reféns das atratividades comerciais. O primeiro sinal de quem não consegue fazer o orçamento familiar render é a compra fora do previsto, conforme explica a especialista em finanças pessoais Lêda Maria de Oliveira. “Este é um dos motivos pelos quais as pessoas ficam endividadas, compram pelo momento emocional”, alerta, mostrando que o importante é fugir de algumas ciladas financeiras. “Com alguns cuidados, é possível viver bem com os próprios ganhos”, afirma.

O descontrole, muitas vezes, começa sem ao menos a pessoa perceber. À medida que o mês vai passando e algumas pequenas demandas vão aparecendo, o saldo de muitos começa a diminuir em um ritmo mais acelerado do que o previsto. De repente, ao verificar o que sobrou, é comum o susto. Um dos perigos de que devemos fugir seria o conceito atualmente muito disseminado de super size, a partir do qual as ofertas dos produtos maiores parecem sempre mais compensadoras. “Comprar uma TV de 42 polegadas quando precisava de uma de 32, por considerar a maior barata, é uma ilusão. Esses consumidores pensam somente na pequena, na aparente diferença, mas estão gastando mais e ponto”, orienta a especialista.

Ligado a isso está o segundo maior engano de consumo. É a tentação de se igualar aos outros. Com a cultura da competitividade enraizada até mesmo nos princípios pessoais, ter um aparelho de celular mais antigo ou um notebook grande demais são situações ilustrativas dessa tendência a uma identidade padronizada na sociedade. “Essa marca da modernidade atinge em cheio as pessoas que não têm personalidade própria. Elas não sabem o que querem e nem se podem comprar. São movidas pelas ações da turma ou do que está em voga”, afirma. Para ela, a atitude oposta é o que pode agregar de fato. “Ser diferente dos outros exige muita clareza de ação e determinação pessoal.”

Lição que a administradora Iane Spalado, 29, não precisa mais aprender. Disciplinada, ela consegue viver com qualidade, mesmo tendo que se sustentar com dois salários mínimos. “Eu consigo equilibrar muito bem. Moro sozinha, pago todas as minhas contas, tenho tudo que preciso. Além disso, sempre viajo com meu namorado, vamos a lugares caros, nos divertimos, mas somente quando é possível”, relata. Não há privação nem milagre, mas um exercício diário de aplicar a razão ao uso do dinheiro.

“Embora seja normal, tenha vontades consumistas, mas nem por isso me afobo. Tenho o hábito de fazer duas listas. Uma para o que preciso e outro para o que quero. A prioridade é sempre da primeira. No entanto, analiso minhas condições reais de comprar o que desejo à vista, se não der este mês, tranquilamente vou poupando até poder pagar”, conta, mostrando ainda a planilha detalhada das despesas mensais. “Minha realidade se adequa ao meu orçamento. É muito difícil eu cair em papo de vendedor. Só compro na hora certa e, se percebo que posso me exceder, nem saio com dinheiro”, completa.

Provavelmente, Iane não deve ser vítima das teóricas promoções das empresas de telefonias, por exemplo. Lêda explica que, muitas vezes, aquele pacote com internet, telefone fixo e TV a cabo, por mais vantajoso que pareça, pode ser sinônimo de gasto inútil para determinadas realidades. Se a pessoa mal fica em casa ou utiliza o celular com frequência, não há necessidade de “aproveitar” as  ferramentas. “Voltamos no raciocínio de que se sairmos para comprar um objeto, um plano,  temos que ser fortes e determinados para não nos deixarmos ser levados pelos discursos de vendas que nos atacam. Determinação e planejamento são as ações que devem nos conduzir neste momento”, pontua.

Descuido

Além de evitar cair na lábia comercial, a especialista alerta para os riscos da leniência. Não trocar produtos que vieram estragados, por exemplo, é exemplo da falta de cuidado com o próprio dinheiro. Aparentemente, não trocar um DVD que veio arranhado ou o brinco cuja pedra caiu parece normal, mas revela a personalidade do consumidor. “Tudo para depois, e este comportamento se revela ações típicas de quem deixa se levar, pelo tempo, pela preguiça e não toma decisões.”

Outra dica é pesquisar quando algum aparelho é quebrado. Dependendo do estrago, o conserto pode sair mais caro que um novo. Mas, como de costume, o crucial é pesquisar para concluir qual decisão é mais econômica para cada caso. “Este tipo de trabalho não tem regra de preço no mercado. Vale olhar muito, muito mesmo. Normalmente, acabamos encontrando um profissional ou empresa que nos atenderá com valor que valha a pena.”

Ainda seguindo o contexto da pechincha, nem sempre comprar aqueles volumes enormes no atacado, por parecer mais barato, apresenta-se como a melhor escolha a longo prazo. “Se você tem caixa, que pague o valor do atacado, será um bom negócio, senão, se exigir sacrifício além do previsto, a dica é não comprar. Vale lembrar a prática da pesquisa de preço para se ter a certeza de que realmente está comprando certo. Olhar datas de validade, se a embalagem está perfeita e outros cuidados são necessários”, completa Lêda.

Um grande vilão do salário são os empréstimos bancários para quitar o cartão de crédito. Muitos parcelam uma compra e se esquecem das outra, levando um susto ao fim do mês pela falta de colocar tudo no papel. Para ela, é uma das grandes ilusões que acompanham os endividados. “Ou usam a justificativa de que, ‘depois vejo como pagarei’. São respostas de conforto emocional momentâneo, justificativa para si mesmo, para alívio da consciência”, chama a atenção.No bolso10 dicas para fazer o salário render:

  1. Não se deixe levar pelo tamanho. Se quer uma TV de 32 polegadas, não se deixe levar pela “oferta imperdível” daquela de 42;

  2. Saiba do que precisa, de fato. Querer um celular mais moderno somente para igualar-se aos amigos é sinal de fraqueza diante dos modismos;

  3. Atente-se às ciladas dos “pacotes”. Se a necessidade é de uma assinatura de internet apenas, para que pagar a mais por uma TV a cabo e uma linha de telefone fixo?

  4. Cuidado com a preguiça. Não trocar o DVD que veio arranhado é deixar-se levar pelo comodismo e o dinheiro gasto vai para o lixo;

  5. Sem conserto. Às vezes, consertar um aparelho quebrado sai mais caro que um novo. Vale pesquisar;

  6. No atacado é mais barato. Dependendo do produto e da sua rotina, comprar em grande quantidade pode significar prejuízo. Analise a data de validade e o volume que costuma consumir;

  7. Empréstimo para pagar dívidas. Ao pegar dinheiro emprestado no banco para quitar o cartão de crédito, por exemplo, coloque todas as contas no papel para se certificar que só deve isso e ver se vale a pena;

  8. É claro que vou usar. Antes de pagar aquele pacote de 3 meses na academia, faça o primero mês para saber se vai mesmo continuar;

  9. Vou levar. Não se afobe nas compras. Muitas vezes, aquela peça que parecia linda na loja não fica bem ao experimentar em casa com calma;

  10. Vou pagar e pronto. Mesmo sendo valores pequenos, as cobranças indevidas devem ser reclamadas e não quitadas por preguiça de ir atrás de seus direitos.

Fonte: Diário da Manhã

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